Quando a ciência entra no terreno

2 de Julho 2025

Do controlo biológico de pragas à digitalização das operações, a silvicultura moderna combina conhecimento e tecnologia para reforçar a saúde das florestas e a eficiência da sua gestão.

A inovação florestal não se esgota no laboratório. É também no terreno – na proteção das plantações e na modernização das operações – que o conhecimento técnico mostra todo o seu valor. A aplicação prática da ciência tem vindo a transformar a silvicultura portuguesa, tornando-a mais eficiente, resiliente e sustentável.

Controlo de pragas e doenças

As pragas e as doenças têm um enorme impacto na produtividade, podendo comprometer o investimento florestal de longo prazo. A proteção florestal recebe, por esse motivo, uma atenção especial dos departamentos de inovação e desenvolvimento da fileira do eucalipto, que procuram soluções para combater estas ameaças. É, além disso, uma área em que a investigação levada a cabo por entidades privadas e públicas encontra grandes sinergias, promovendo a gestão integrada das pragas e doenças que afetam os eucaliptais.

Este esforço de investigação inclui medidas para o controlo biológico com recurso a parasitoides que são introduzidos no ambiente. Entre outras soluções atualmente em estudo, é de destacar o sucesso na utilização de dois inimigos naturais para o gorgulho-do-eucalipto e um para o percevejo-do-bronzeamento. Um dos estudos efetuados neste domínio calculou que o recurso ao inseto Anaphes nitens, que parasita os ovos do gorgulho, impedindo o desenvolvimento das larvas, permitiu salvar pelo menos 1.800 milhões de euros em madeira que, de outro modo, teria sido perdida.

Para além do controlo biológico, a investigação realizada sobre o controlo químico mostrou a possibilidade de utilização de produtos fitofarmacêuticos, já devidamente estudados em termos da eficácia de aplicação e impacto no ambiente.  Neste caso, a redução de pragas pode atingir os 90%.

Evolução das operações

As operações de silvicultura relativas ao eucalipto foram alvo de uma enorme evolução nas últimas décadas, fruto da investigação e desenvolvimento nos diferentes domínios e fases de crescimento da floresta, desde a instalação e manutenção das plantações, até à exploração da madeira e condução dos povoamentos em sucessivas rotações (talhadias).

Entre as diversas operações, são de assinalar os avanços obtidos na preparação do terreno, necessidades nutricionais das plantas e práticas de fertilização, seleção de varas, controlo da vegetação espontânea e processos de colheita da madeira.

Por exemplo, a evolução do conhecimento sobre a nutrição das plantas de eucalipto e a fertilidade do solo permitiu estabelecer critérios rigorosos de recomendação de adubação de acordo com cada condição de solo e de clima. Assim, em função das necessidades nutricionais da planta e da disponibilidade de nutrientes no solo, a adubação pode proporcionar ganhos em volume de madeira de 20 a 30%.

Os pés (ou toiças) de eucalipto têm a capacidade de emitir rebentos após o corte das árvores, que são selecionados e conduzidos por mais uma ou duas rotações (ciclo de crescimento). Desenvolveram-se estudos neste campo desde cedo, principalmente no tema da seleção de varas, prática que permite aumentar o volume de madeira em 50%. Como tal, a idade das plantas, a época de corte e o número de rebentos ou varas a deixar nesta operação silvícola estão entre os temas mais estudados por técnicos e investigadores.

Outras áreas cresceram em paralelo, com consequências nos processos silvícolas. A mecanização da colheita da madeira, por exemplo, envolve maior sofisticação, trazendo ganhos de eficiência na atividade. A digitalização e as novas tecnologias são utilizadas igualmente como fator de eficiência na gestão e recolha de dados florestais.

A aplicação de novos procedimentos e equipamentos inclui, por exemplo, a utilização de drones com sensores para quantificar o volume de madeira, o recurso a tecnologia para avaliar a biomassa florestal, ou o uso de equipamentos mais ágeis e práticos, como smartphones, para inventariar a floresta e a madeira em pilha no terreno.

Áreas científicas relevantes emergiram e são alvo de estudos e desenvolvimentos na indústria para a melhoria contínua dos processos e das práticas a adotar no terreno, como a relação do eucalipto com o meio ambiente, particularmente no que diz respeito à conservação da água e do solo, bem como, mais recentemente, a sua capacidade no sequestro do carbono. Num contexto de economia circular, têm igualmente ganho maior expressão temas como a influência do modelo de gestão do povoamento na capacidade produtiva do sistema clima-solo-planta e a utilização de resíduos do processo industrial para reciclar e devolver os nutrientes ao meio florestal.

O conhecimento adquirido oferece um forte racional técnico e científico às práticas silvícolas usadas nas plantações de eucalipto, indicando os melhores procedimentos no terreno. Esta gestão responsável, que garante a equidade dos valores económico, social e ambiental nas florestas, é promovida e estimulada por esquemas de certificação florestal, aos quais a indústria aderiu no início deste século.