As florestas têm um papel fundamental na circularidade da água. A floresta de eucalipto, espécie particularmente eficiente no uso deste recurso, não é exceção. As plantações bem geridas permitem, face a outras culturas, produzir mais madeira com menos água. E as plantações bem geridas também garantem a proteção dos cursos de água.
Embora o eucalipto seja uma planta de crescimento rápido, quando comparada com outras espécies florestais, não requer mais água por quantidade de madeira produzida – trata-se de uma árvore que usa os recursos hídricos de forma eficiente.
Estudos realizados na região centro de Portugal, bem como uma análise de 2022 de várias regiões do mundo, mostram que o uso de água é semelhante em eucaliptais (E. globulus) e pinhais (P. pinaster).
E uma comparação entre plantações de eucalipto, de pinheiro e de floresta nativa no Chile, evidenciou mesmo a maior eficiência do eucalipto. Mas, afinal, como é que os eucaliptais contribuem para a proteção do ciclo hidrológico?
As árvores absorvem água ao nível das raízes e transportam-na através do tronco e dos ramos para a copa, onde mais de 95% é libertada para a atmosfera através da transpiração, promovendo a circularidade hídrica a nível global. Razão por que se utiliza a expressão “uso de água” pelas plantas, em vez de “consumo”, dado que a maioria volta a reentrar no ciclo.
A água libertada na transpiração está associada à fotossíntese, o processo pelo qual as plantas usam a luz solar para transformar água e dióxido de carbono em alimento (glicose) e oxigénio. Ou seja, o fluxo constante de água permite que a árvore faça a fotossíntese de forma mais eficiente, pelo que taxas mais elevadas de transpiração estão associadas a uma maior produção de biomassa (isto é, de crescimento), e, consequentemente, a maiores taxas de sequestro de carbono. No caso do eucalipto, essa relação é otimizada graças a várias características morfológicas, anatómicas e fisiológicas da espécie.
Uma planta eficiente
A elevada eficiência do uso da água nos eucaliptais geridos de forma sustentável depende, obviamente, da adequação dos povoamentos aos recursos hídricos existentes, mas começa logo com os atributos das próprias plantas. Por um lado, o eucalipto produz folhas num curto período, o que aumenta a fotossíntese. Por outro, essas folhas possuem uma capacidade superior de efetuar trocas gasosas, relativamente a outras espécies como o Pinus radiata (pinheiro-insigne ou pinheiro–de-Monterey), permitindo uma maior produção de biomassa com a água utilizada.
O formato de folha do eucalipto tem ainda outra vantagem importante para a eficiência hídrica: favorece a escorrência da água da chuva, originando uma perda por interceção de cerca de 11 a 12% da precipitação, o que é inferior à de outras espécies florestais, como o pinheiro. Isto significa que cai mais água no solo, onde é necessária para as plantas e os microrganismos que potenciam a fertilidade do terreno, mas também para os caudais subterrâneos. O facto de as folhas terem ainda uma elevada proporção de ceras cuticulares ajuda a água a deslizar, ao mesmo tempo que promove uma menor evaporação ao nível da copa.
Assim, quando existe muita água disponível, o eucalipto cresce com menos recursos hídricos que outras árvores, quando se compara a quantidade de biomassa produzida, mas a espécie tem ainda outras características que aumentam a sua eficiência do uso da água quando há escassez hídrica. Um facto observado em plantações de eucalipto globulus na região centro de Portugal e noutros povoamentos de eucalipto em França: em períodos de seca, o eucalipto consegue fazer um controlo eficiente da perda de água por transpiração, através do fecho progressivo das células da epiderme das folhas (os estomas). E as suas folhas largas e pendentes favorecem a oscilação com o movimento do ar, o que permite evitar o calor excessivo sem utilizar muita água.
Esta capacidade de adaptação do eucalipto a condições adversas e a sua eficiente utilização de recursos assume uma particular relevância no atual contexto de alterações climáticas.
A gestão sustentável que faz a diferença… também na água
🌳 Nos eucaliptais de produção sustentável é feita a preservação das galerias ripícolas e a manutenção de faixas de proteção e da distância dos povoamentos aos cursos de água, nascentes ou outras fontes de água.
🌳 O ordenamento da paisagem, adotando uma estrutura em mosaico, seja de espécies, seja de plantações com idades diferentes, permite que haja faseamento de cortes, o que otimiza o uso dos recursos hídricos.
🌳 Os eucaliptais de exploração responsável ajustam a densidade da floresta às disponibilidades hídricas locais: o escoamento para as bacias pode ser aumentado através de redução da densidade arbórea.
🌳 Para proteger os recursos hídricos, as florestas de produção com gestão ativa coexistem com áreas de floresta de conservação.