Portugal, líder de referência na bioeconomia europeia de base florestal?

21 de Agosto 2025

Carlos Pascoal Neto, Diretor-geral do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel desafia-nos a refletir sobre o potencial de Portugal na vanguarda de um novo modelo de desenvolvimento que responda aos grandes desafios da atualidade.

Carlos Pascoal Neto, investigador e especialista em bioeconomia, fotografado junto a uma árvore, em ambiente natural.

Portugal tem todas as condições para ser um líder de referência no contexto europeu da bioeconomia florestal, baseada na indústria de pasta e papel, a par com os países escandinavos, contribuindo de forma decisiva para diminuir a dependência dos recursos fósseis e mitigar as alterações climáticas:

✅ Possui empresas fortemente inovadoras, líderes nos mercados internacionais, com unidades industriais a evoluírem para biorrefinarias, diversificando o seu portefólio de bioprodutos;

✅ Tem condições únicas de solo e clima para a produção da matéria-prima de excelência mundial para este setor, o Eucalyptus globulus;

✅ E possui centros de I&D e inovação, públicos e privados, reconhecidos pelos seus pares internacionais, que estão a gerar conhecimento e a transferi-lo para a floresta e para a indústria.

Não é, no entanto, uma batalha ganha. Atravessamos um período crítico nesta trajetória que, se não for devidamente assumida como um desígnio nacional, poderá comprometer o futuro deste setor e as metas para a neutralidade carbónica em Portugal.

Para afirmar e consolidar esta liderança, precisamos de garantir a disponibilidade de matéria-prima nacional, reduzindo as importações de madeira, geralmente de menor qualidade e com maior pegada ecológica. Portugal tem de assumir a floresta como um setor estratégico, com uma visão de longo prazo, suportada no conhecimento científico, sem enviesamentos ideológicos, respeitando o adequado equilíbrio entre floresta plantada e floresta de conservação, e preservando os valores da biodiversidade. E temos, seguramente, margem para crescer, promovendo o ordenamento do território, colocando economia e gestão na floresta, convertendo em áreas florestais parte dos mais de 30% do território classificados como matos e pastagens, valorizando e remunerando os chamados serviços do ecossistema.

Para termos uma floresta ordenada, produtiva e resiliente precisamos também de recursos humanos qualificados. No entanto, a formação de nível médio ou superior no domínio das ciências e das tecnologias florestais tem vindo a perder atratividade por parte dos nossos jovens, com impacto direto na oferta de mão-de-obra qualificada. É fundamental um programa nacional, com apoio das empresas do setor (que têm feito o seu papel, dentro da sua esfera de ação), que promova a formação florestal, dignifique as profissões ligadas à floresta e à bioeconomia de base florestal.

No domínio da I&D, inovação e transferência de tecnologia, tanto na floresta como dos processos e produtos industriais de origem florestal, existe capacidade instalada para fazermos mais e melhor. É fundamental concentrar esforços de investimento público em I&D&I nas áreas e clusters de maior relevo para a economia nacional, apoiando, através de programas estruturantes de médio-longo prazo, os stakeholders de toda a cadeia de valor.

A bioeconomia de base florestal, pelo seu relevante peso nas exportações nacionais (8%, dos quais 51% do cluster da pasta e papel), carece assim da definição e implementação de uma visão e plano estratégico de longo prazo, suportado em adequadas políticas públicas, conhecimento e ciência, financiamento público e privado, mobilizando todos os atores no terreno, num quadro de um verdadeiro pacto de regime.

Só assim Portugal poderá consolidar a sua posição de liderança europeia da bioeconomia de base florestal.

Por Carlos Pascoal Neto, Diretor-geral do RAIZ -Instituto de Investigação da Floresta e Papel.

Portugal tem de assumir a floresta como um setor estratégico, com uma visão de longo prazo, suportada no conhecimento científico, sem enviesamentos ideológicos, respeitando o adequado equilíbrio entre floresta plantada e floresta de conservação, e preservando os valores da biodiversidade.