Redescobrir o prazer da leitura

7 de Novembro 2025

Há paixões que nunca se apagam. Ficam latentes, à espera do momento certo para regressar. Ler é uma delas. Um hábito que o tempo e os ecrãs foram deixando adormecer, mas que vale a pena recuperar.

Durante anos, os livros foram companhia de cabeceira, refúgio de fim de tarde, bilhete para outros mundos. Até que os dias começaram a encolher, engolidos por ecrãs, pressas e distrações. Hoje, folhear um livro parece quase um luxo. E, no entanto, continua a ser uma das formas mais simples de abrandar. Porque ler não é passar o tempo. É ganhar tempo: aquele que se vive por dentro, entre letras, pontos finais, linhas e ideias.

O primeiro passo para recuperar o hábito de ler é redescobrir o prazer do papel.

Há algo de insubstituível no gesto físico de abrir um livro. O som das páginas, o cheiro, a forma como a luz pousa nas letras. Ler em papel é mais do que ler: é uma experiência sensorial que envolve o corpo inteiro.

E os estudos mostram que continuamos a preferi-lo assim. Em Portugal, os dados da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, referentes a 2024, mostram que mais de 90% dos leitores escolhem o livro físico. Talvez porque o papel nos devolva uma coisa rara nos dias que correm: foco.

Com as páginas em papel debaixo do braço, há que escolher o lugar perfeito para as saborear. Um canto junto à janela, uma cadeira confortável, uma manta, luz quente, silêncio. Não precisa de ser bonito, só tem de ser seu. Um espaço que convide a parar e ficar, mesmo quando o mundo lá fora insiste em correr. É ali que o livro deixa de ser objeto e volta a ser companhia.

O próximo capítulo da nossa história

Passamos (perdemos?) horas a deslizar o ecrã, à procura de algo que nos prenda. Talvez o que nos falta não seja conteúdo, mas sim profundidade. Um livro em papel oferece isso: uma narrativa que convida à pausa e devolve sentido. Tente fazer o desafio: em vez de 30 minutos de redes sociais, 10 páginas por dia. Parece pouco, mas no fim do mês é, muito provavelmente, um livro inteiro.

A leitura também pode ser partilhada. Um clube de leitura com várias pessoas, um amigo que lê o mesmo livro, um filho a quem se lê em voz alta. Falar sobre livros é uma forma de os viver duas vezes, e, frequentemente, de descobrir que o que nos tocou também tocou os outros.

E não se deixe levar por modas, tendências ou a pressão do que é “suposto” ler. A leitura não é uma obrigação cultural. É um prazer pessoal. Se não consegue concentrar-se naquele clássico que todos ficam de boca aberta quando diz que nunca leu, ou na última obra do mais recente Prémio Nobel que os colegas dizem ser uma obra-prima, mude. Leia poesia, crónicas, romances policiais, ensaios curtos, livros ilustrados. O importante é não desistir à segunda página. Cada livro tem o seu momento e há sempre um à espera de ser encontrado.

Reencontrar o gosto de ler não exige tempo. Exige vontade. É abrir um livro e deixar que ele faça o resto: o silêncio, o foco, a pausa. Experimente. Talvez descubra que o prazer da leitura nunca desapareceu, apenas precisava de um convite para regressar.