Houve um tempo em que as flores eram mensagens. Cada espécie, cada cor, tinha o poder de traduzir um sentimento, numa linguagem silenciosa chamada floriografia.
No século XIX, as flores eram escolhidas e combinadas como se fossem palavras.
Esta linguagem simbólica, conhecida como “floriografia”, permitia expressar sentimentos que não se podiam dizer em voz alta. Dependendo da combinação de espécies e cores, um ramo podia declarar amor, pedir perdão, consolar um amigo ou até pôr fim a uma relação.
A prática, embora com raízes antigas no Médio Oriente, ganhou protagonismo na Europa num tempo em que as convenções sociais eram rígidas e as emoções discretas, elevando a comunicação através das flores a uma arte subtil e elegante.
A popularidade da floriografia cresceu de tal forma e a sua interpretação tornou-se tão complexa, que foram publicados dicionários inteiros dedicados a decifrar as suas intrincadas revelações. O primeiro registo europeu data de 1809, com a lista de Joseph Hammer-Purgstall, “Dictionnaire du langage des fleurs”. Dez anos depois, em 1819, a escritora francesa Louise Cortambert, sob o pseudónimo de Madame Charlotte de la Tour, publicou “Le Langage des Fleurs”, a obra que tornaria esta prática amplamente conhecida.
A partir daí, multiplicaram-se publicações em França, no Reino Unido e nos Estados Unidos, cada uma com as suas próprias interpretações simbólicas. Algumas flores podiam significar amor num livro e desdém noutro, o que tornava esta linguagem tão encantadora quanto ambígua. Ainda assim, a ideia persistiu: as flores podiam ser uma carta silenciosa, um código de emoções que só quem sabia escrever conseguia e só quem sabia ler entendia.
Hoje, já não precisamos de recorrer à floriografia para dizer o que sentimos – mas talvez devêssemos. Num mundo dominado por ícones digitais, há algo de poético na ideia de enviar um pensamento através de um ramo de flores, onde cada elemento é escolhido com propósito.
Neste tempo em que as palavras se gastam depressa e as mensagens se perdem entre ecrãs, a floriografia lembra-nos que a natureza também sabe comunicar e que um gesto simples pode ter o poder de dizer tudo. Escolher uma flor é escolher uma emoção. E talvez o segredo esteja precisamente aí: parar um instante, olhar para o que floresce e deixar que sejam as pétalas a falar por nós.
Alguns significados clássicos da floriografia
(Baseados na lista publicada pelo Old Farmer’s Almanac, a mais antiga publicação periódica em circulação nos Estados Unidos)
🌷 Túlipa vermelha: declaração de amor
🌼 Camomila: paciência face à adversidade
🌿 Alecrim: memória e lealdade
🌸 Jasmim branco: amor puro
💜 Violeta: fidelidade e modéstia
🌹 Rosa vermelha: paixão e desejo
🌻 Girassol: admiração e alegria
🌺 Cravo branco: amor puro
🌾 Lavanda: devoção e serenidade
🌼 Margarida: inocência e esperança
💐 Lírio-do-vale: doçura e felicidade reencontrada