Presentes com propósito

1 de Dezembro 2025

Nesta época, nem sempre precisamos de mais objetos, mas precisamos de gestos com significado. Há formas de oferecer que criam ligação sem acrescentar tralha.

Não vale a pena estarmos com paninhos quentes: certamente temos em casa muito mais coisas do que as que conseguimos usar. E o mesmo acontece com a maioria das pessoas à nossa volta. Por isso, nesta altura do ano, a troca de presentes pode tornar-se um desafio. Por um lado, temos genuíno prazer em oferecer e queremos mostrar carinho e atenção. Por outro, percebemos perfeitamente que ninguém precisa de mais um acessório esquecido numa gaveta ou de mais um bibelot na prateleira.

A boa notícia é que podemos dar algo especial, com significado, apreciado, mas que não implique a acumulação de objetos, afastando a ideia de que presentear implica acrescentar ao desperdício.

Presentes que não cabem numa caixa

O tempo é uma das ofertas mais valiosas. Pode ser um dia para organizar uma arrecadação, digitalizar fotografias antigas ou tratar de pequenas tarefas que alguém anda a adiar. Para quem tem filhos pequenos, oferecer horas de babysitting é o céu, permitindo programas a dois e um descanso raro.

Também é possível oferecer experiências, que podem ou não ter um valor monetário associado. Uma caminhada num trilho perto de casa, uma visita guiada a um museu, um bilhete para uma sessão numa biblioteca municipal, para um workshop de observação de aves, uma peça de teatro ou um concerto. São gestos que criam memórias, sem acumular objetos.

Para quem gosta de música, uma playlist construída de propósito, respeitando os seus gostos, funciona como uma espécie de postal sonoro que acompanha a pessoa ao longo do ano. O cuidado está no tempo investido, não no valor material.

Ideias com sabor, vida e intenção

É uma pessoa que gosta de cozinhar? Fantástico. Os seus amigos e familiares vão adorar compotas, chutneys e manteigas caseiras, bolachas, granola ou barras de cereais. Ou até mesmo comida preparada, pronta a congelar e trazer para a mesa em janeiro, quando as festividades acalmam e a vida volta a entrar no ritmo normal, pedindo pratos simples, com sabor a lar.

As plantas são outra boa opção. Sim, ocupam espaço, mas… são plantas! Como não gostar? Se quisermos mesmo fugir ao puramente ornamental, podemos oferecer vasos de manjericão, alecrim ou salsa, que são ofertas vivas que duram meses e dão sabor aos cozinhados. Se a pessoa a ofertar tiver um pequeno jardim ou uma varanda florida, vale a pena apostar em embrulhos originais com sementes, que são uma promessa de verde quando chegar a primavera.

E porque não “passar para a frente” aquele livro que mexeu de tal forma consigo que acha que toda a gente o devia ler? Isto não é válido para todos, porque a relação com os livros é muito pessoal: há quem não seja capaz de se livrar deles; há até quem não os consiga emprestar; mas também há quem sinta que o livro não é verdadeiramente seu, e que a mensagem tem de ser partilhada. Para estes últimos, um livro que os marcou pode perfeitamente ganhar nova vida noutra casa. E se juntar um bilhetinho manuscrito a explicar o porquê do gesto, melhor ainda.

Dar um presente também pode ser transformar o gesto em impacto. Doar dinheiro para uma instituição em nome de alguém, apadrinhar um animal selvagem ou para adoção, ou mesmo fazer voluntariado para uma causa que sabemos que fala ao coração dessa pessoa. São presentes com intenção e que revertem para todos.

Oferecer sem comprar coisas é, no fundo, destralhar o Natal e voltar ao essencial. É pensar no que verdadeiramente acrescenta, no que cria ligação, utilidade ou bem-estar. E descobrir que os melhores gestos nascem muitas vezes do tempo e da criatividade, não das prateleiras das lojas.

A boa notícia é que podemos dar algo especial, com significado, apreciado, mas que não implique a acumulação de objetos, afastando a ideia de que presentear implica acrescentar ao desperdício.