São muitos quilómetros andados e muito lixo apanhado, mas os voluntários da Brigada do Mar crescem e o trabalho de limpeza da associação expande-se. Mais uma iniciativa com o apoio do #MYPLANET.
Poderia parecer que o mais estranho que já encontraram nas suas ações de limpeza de praias fosse aquele morteiro, ao pé de Pinheiro da Cruz, ou aquele crânio humano em Milfontes. Mas, na realidade, “o objeto mais incrível”, para Simão Acciaioli, membro fundador da Brigada do mar, são as garrafas de plástico de 1,5 litros de água. “Em dois quilómetros, na nossa primeira ação debaixo da Ponte Vasco da Gama, recolhemos 10 000. Este ano já apanhámos mais 7 000.”
Simão também ainda fica surpreendido com a quantidade de garrafas de iogurte líquido que aparecem no areal ou com a “cobardia” de quem deixa beatas na praia, algo que é “profundamente cancerígeno para a pele de uma criança”. O grupo também sabe bem quais são os melhores locais de pesca lúdica à linha, pela quantidade de garrafas de cerveja que encontram em determinados sítios.
Simão Acciaioli, membro fundador da Brigada do Mar.
E é por isso que, embora o número de voluntários seja “crescente e consistente”, as ações da Brigada do Mar – associação que nasceu em 2009, depois de um passeio informal de amigos, a pé, entre Tróia e Melides, ter deixado em choque os participantes – continuam a ser ainda uma forma necessária de sensibilização. Mas não chega. Simão Acciaioli acredita que o que faz falta é todos os materiais usados terem um valor de retoma e todas as indústrias terem um plano de reciclagem para o que produzem. Para que quem compra algo de plástico possa voltar a receber o depósito da embalagem e, assim, valorizá-la, e para que sejam as empresas a criar soluções para recolher os seus produtos em fim de vida, num ciclo perfeito sem resíduos.
“Bastava alguém, um dia, dizer que os aterros passavam a estar proibidos, para se encontrarem soluções para todo o lixo. Às vezes tem de ser assim…” Entretanto, a Brigada do Mar continua a organizar cerca de 60 dias por ano de ações de limpeza de praias, sobretudo na zona entre Tróia e Melides, mas também noutras zonas do país, como Caparica, Figueira da Foz, Óbidos, Sines, Lagoa de Albufeira ou Odemira. Só ao fim dos quatro primeiros anos de limpezas regulares é que a quantidade de lixo diminuiu, permitindo à Brigada do Mar avançar para outras zonas igualmente contaminadas.
A questão é que o lixo marinho não mata apenas a fauna marinha dentro de água, do mais pequeno peixe até às baleias. Redes e cordas que reentram no mar também são um perigo para a segurança das embarcações, por exemplo, se danificarem as hélices. E o lixo na areia não mata apenas a vegetação que protege as dunas da erosão: as inúmeras lâmpadas fluorescentes que encontram são um verdadeiro risco para a saúde de qualquer pessoa que percorra o areal.
Ao fim de dez anos, há pelo menos um ponto importante que Simão considera que mudou: “se no início éramos considerados malucos por andarmos a limpar o lixo dos outros, agora o número de envolvidos neste tipo de projetos é tão alargado que os malucos já são os que não limpam”. Nos últimos dez anos tiveram 8 000 participantes nas suas atividades, seja nos anuais 15 dias consecutivos passados no Parque de Campismo da Galé (um parceiro da associação), onde se encontram todos os dias cerca de 40 voluntários; sejam os 12 que acompanham as limpezas de grandes volumes, com três voluntários por cada moto 4 com atrelado (uma parceria com a Yamaha); sejam as centenas nas ações com escolas ou, como aconteceu este ano no Rio Tejo, com o Turismo de Portugal, que reuniu 250 pessoas. “Aprendemos com a Brigada do Mar que as decisões partem do indivíduo, mas que quando nos juntamos temos muita força.”
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