São cada vez mais as pessoas que se sentem ansiosas, angustiadas, revoltadas ou tristes perante a crise ambiental. Muitas sofrem de ecoansiedade, e o seu bem-estar e vida diária podem ficar afetados.
O conceito é recente. Tão recente que muitos nem sabem que existe um nome para designar aquilo que sentem. Um nome para aquele medo ou preocupação constante com as consequências das alterações climáticas. Um nome para aquela ansiedade paralisante face às notícias e previsões sobre o aquecimento global.
Esse nome é ecoansiedade, e não só já está no dicionário, como vem sendo estudado há alguns anos por investigadores da área da saúde mental.
Antes da definição do conceito, importa interiorizar o que, seguramente, ele não representa: “A ecoansiedade não é uma doença, não é um distúrbio”, sublinha Teresa Raquel Pereira, psicóloga e investigadora. “Não é uma resposta patológica, nem é uma condição clínica. Se olharmos para a ecoansidade como tal, estaremos a estigmatizar as pessoas que a sentem e a desresponsabilizar a sociedade”.
Mas como podemos, então, definir o conceito? “A ecoansiedade é o medo crónico da destruição ambiental. É uma resposta adaptativa e expectável perante um problema real, que é a crise climática”, responde a especialista.
Essa resposta pode dar origem a uma ampla gama de emoções associadas. “Preocupação, medo, tristeza, angústia, raiva, insegurança… Todas estas emoções e estados podem surgir de forma flutuante, alternando-se no tempo, em diferentes momentos”, explica Teresa Raquel Pereira. E a forma de gerir estas emoções pode passar tanto pela “negação, uma forma de proteção, como pela paralisação, ou pelo maior envolvimento na causa ambiental”.
A ansiedade mantém-nos alerta
“É uma angústia que foi crescendo à medida que os efeitos das alterações climáticas se foram agravando. E, sobretudo, à medida que fui percebendo que as soluções que vão sendo adotadas não são suficientes para fazer face ao problema.” É assim que João , 51 anos, define a sua ecoansiedade. “Sinto que estas questões me afetam mais do que às pessoas que me rodeiam, que passo mais tempo a pensar nelas e que me provocam mais angústia. Porque quando partilho o que sinto, não recebo reciprocidade, nem compreensão. Só vejo indiferença nos outros. Tanto pelo problema em si, como pela maneira como me sinto. E essa é outra das razões da minha angústia – a indiferença generalizada”, confessa.
Se a expressão do que se sente é importante, a reação que se recebe também. “Quando outras pessoas desvalorizam, dificulta muito o processo de gestão das emoções”, explica Teresa Raquel Pereira.
“Outro fator de angústia é o facto de ter filhos. Penso nos meus filhos e nos filhos e netos deles. A escala de tempo onde situávamos os efeitos das alterações climáticas de repente parece ter encurtado. Se pensarmos na velocidade a que tudo aconteceu nos últimos 20 anos, como estaremos em 2100?”, pergunta-se João. Perguntas e angústias naturais, considera Teresa Raquel Pereira: “A ansiedade é um processo adaptativo, que nos prepara para uma situação perigosa. Tal como o medo, faz-nos estar mais alerta e permite ganhar controlo face a um problema”, explica. Mas a gestão das emoções é especialmente desafiante nestes casos em que a crise ambiental é o fator que está na origem da ansiedade. “Torna-se mais difícil dar segurança e sentido de controlo, perante um problema desta dimensão”, considera a psicóloga.
Como reagir e ajudar
“Quando sentimos que o bem-estar do outro está a ficar comprometido e que pode ter dificuldade em gerir as suas emoções face à crise ambiental, a primeira resposta é escutar e validar sentimentos”, aconselha Teresa Raquel Pereira. “É muito importante que no círculo familiar e de amigos haja esta resposta de acolhimento”, afirma.
Em relação ao próprio, e apesar de esta ser uma área recente, há uma evidência que a investigação já demonstrou: “A resposta mais eficaz para a ecoansiedade é a ação”, garante a psicóloga. “Seja através do ativismo da vida diária, com comportamentos que nos façam sentir parte da solução, seja no envolvimento em grupos ambientalistas. Pode parecer contraditório, que um maior envolvimento ajude, mas a verdade é que traz também maior controlo e empoderamento, anulando o sentimento de impotência”, explica.
João reconhece que este sentimento é outro dos aspetos que faz aumentar o seu mal-estar: “A sensação de impotência faz-me sentir ainda mais angustiado. Sei que a nossa ação particular tem a sua importância, mas a verdade é que estamos dependentes de terceiros.”
Teresa Raquel Pereira reforça que todas estas respostas são expectáveis e que até há quem considere que as pessoas que sofrem de ecoansiedade são apenas mais atentas e despertas para os problemas que são de todos: “São pessoas que têm uma particular conexão com a natureza e uma maior sensibilidade. Podemos dizer que são capazes de sentir eco-empatia e eco-compaixão.” Mais conceitos novos para a grande crise do nosso tempo.
As pessoas que sofrem de ecoansiedade têm uma particular conexão com a natureza e uma maior sensibilidade.
A história de uma palavra nova
O termo ecoansiedade foi cunhado pelo filósofo Glenn Albrecht, em 2011. A Associação Americana de Psicologia foi a primeira instituição a usá-lo, em 2017, num relatório em que analisava o impacto da crise ambiental na saúde mental. Desde aí, o conceito foi começando a ser cada vez mais estudado e debatido. Mas só começou a ganhar projeção na esfera pública a partir de 2018, com o agravamento dos efeitos do aquecimento global e com as manifestações pelo clima que aconteceram em inúmeros países, muito por conta do ativismo da adolescente Greta Thunberg. Ela é o arquétipo de como a ecoansiedade pode tornar-se avassaladora na vida de alguém. E de como a ação pode ser a saída salvadora.