A única raça autóctone de burros em Portugal é originária da região de Bragança. Classificada como ameaçada de extinção, tem vindo a ser alvo de uma verdadeira “operação de salvamento”.
Inteligentes, astutos, pacientes, fortes e com grande resistência ao trabalho. Os burros da Raça Asinina de Miranda são também muito curiosos, leais aos seus cuidadores, dóceis e capazes de um ótimo relacionamento com as crianças. Distinguem-se das restantes espécies asininas sobretudo pela pelagem abundante e comprida, de cor castanha, e pelo tom branco no focinho e em redor dos olhos.
Determinadas condições da região transmontana do Planalto Mirandês, como o clima, o isolamento ou as características agrícolas dos terrenos terão dado origem ao aparecimento desta raça, que só foi oficialmente reconhecida em 2002.
A consciência da ameaça
Após um estudo sobre o gado asinino na região do Nordeste Transmontano, conduzido pelo Parque Natural do Douro Internacional, foi possível confirmar a existência de uma nova raça autóctone e, simultaneamente, a necessidade do seu reconhecimento. A Direção-Geral de Veterinária e o Serviço Nacional Coudélico apoiaram este processo e, em 2002, o Burro de Miranda, cuja região de origem inclui os concelhos de Bragança, Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro, foi oficialmente reconhecido.
Nesse mesmo ano, realizou-se o primeiro censo: registavam-se apenas cinco nascimentos por ano e, em idade reprodutora, existiam 930 fêmeas e 20 machos. “Nessa altura, a média de idade das fêmeas reprodutoras era bastante elevada, próxima dos 17 anos de idade”, recorda Miguel Nóvoa, da Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA). Tendo em conta os critérios da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que monitoriza a situação mundial dos recursos genéticos animais para agricultura e alimentação, estes números colocaram automaticamente a raça recém-reconhecida na lista de animais ameaçados de extinção.
As boas notícias
Embora ainda esteja longe de deixar o estatuto de “ameaçada”, as perspetivas de longo prazo para a Raça Asinina de Miranda são positivas, uma vez que o número de novos nascimentos e de novos proprietários tem aumentado, tanto dentro como fora da região de origem. “Atualmente estão registados no Livro Genealógico da Raça Asinina de Miranda 756 fêmeas reprodutoras e cerca de 40 machos reprodutores, mas a média de idade desta população ronda os 9 anos de idade”, afirma Miguel Nóvoa. “O rejuvenescimento da população das fêmeas reprodutoras tem sido um resultado positivo, fruto do trabalho de todos os criadores da Raça Asinina de Miranda. Este rejuvenescimento e a manutenção de cerca 120 nascimentos por ano de animais em linha pura são um sinal de esperança”, considera.
Geralmente, os novos proprietários recorrem a estes burros em contextos alternativos ao trabalho agrícola, o que contribui para a sua recuperação. “Usos associados à gestão da paisagem, usos terapêuticos, animais de companhia, fins lúdicos e pedagógicos são exemplos do que procuramos promover junto dos nossos criadores”, explica Miguel Nóvoa.
Criada em maio de 2001, durante o processo de reconhecimento da espécie, a AEPGA trabalha com o grande objetivo de conservar e proteger os asininos em geral e o Burro de Miranda em particular. À luz deste propósito, tem realizado estudos técnico-científicos que contribuem para a preservação do património genético da raça, e promovido ações de formação e sensibilização dos criadores com o mesmo fim.
Sabia que pode apadrinhar uma destas felpudas criaturas, contribuindo, assim, para os esforços de conservação da raça?
Créditos das fotos: CláudiaCosta