No mundo das embalagens, aumentar a taxa de reciclagem e substituir os plásticos de uso único são dois caminhos incontornáveis no contexto da transição para uma economia circular e sustentável. O papel, bioproduto de origem renovável, surge como resposta. E o papel que pode ser mais vezes reciclado tem vantagens acrescidas.
“Até 2030, reduzir substancialmente a produção de resíduos através da prevenção, redução, reciclagem e reutilização.” Esta é uma das oito metas que fazem parte do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 da Organização das Nações Unidas (ONU) – “Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis”.
Neste contexto, a reciclagem tem um papel preponderante, ao permitir que uma quantidade significativa de resíduos entre de novo no ciclo produtivo. E a reciclagem de embalagens é especialmente relevante, uma vez que este segmento representa uma parte significativa da globalidade dos resíduos gerados diariamente. Segundo a Sociedade Ponto Verde, as embalagens representam cerca de 20% de todos os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) que produzimos.
Cada habitante da União Europeia foi responsável, em 2020, pela geração de 177,9 kg de resíduos de embalagem. São dados do Eurostat, que revelam também que Portugal se situou muito próximo desta média, com 175 kg por habitante. Este valor tem vindo a aumentar, de ano para ano, mas a taxa de reciclagem de embalagens também tem seguido essa tendência. Em 2020, ainda segundo dados do Eurostat, esta taxa, englobando os vários materiais (papel e cartão, plástico, vidro, madeira e metal) foi de 64% na Europa e de 59,9% em Portugal.
Segundo dados mais recentes, do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE), disponibilizados pela Sociedade Ponto Verde em abril deste ano, os portugueses continuam a reciclar cada vez mais. No primeiro trimestre de 2023 foram recolhidas 108.368 toneladas de embalagens nos ecopontos nacionais, um aumento de 3%, em comparação com o período homólogo de 2022.
A importância do papel
Evitar os plásticos de uso único, de origem fóssil, e dar preferência a materiais de origem renovável, biodegradáveis e recicláveis têm sido estratégias incontornáveis no sentido de promover uma economia circular, de garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis e de atingir a neutralidade carbónica. Por isso, o papel e os produtos com origem em florestas certificadas e geridas de forma responsável, têm assumido uma relevância crescente nos últimos anos. A sua taxa de reciclabilidade é um dos pontos a favor deste bioproduto. Segundo dados do SIGRE, no primeiro trimestre de 2023 foram encaminhadas para reciclagem 36.620 toneladas de papel/cartão e 19.589 toneladas de plástico (mais 9% e mais 2%, respetivamente, do que no mesmo período do ano anterior).
No entanto, mesmo do ponto de vista das várias vidas que pode ter, o papel não é todo igual. As suas fibras vão perdendo propriedades a cada novo ciclo de reciclagem e, por isso, o número de vezes que pode ser submetido a esse processo é limitado. Mas há boas notícias: um estudo recente veio demonstrar que a fibra celulósica de Eucalyptus globulus permite cinco vezes mais ciclos de reciclagem do que fibras de outras espécies.
Embalagens de papel e cartão à base de Eucalyptus globulus têm mais vidas
O estudo, sobre o desempenho de pastas para papéis de embalagem, com o título “Recycling performance of softwood and hardwood unbleached kraft pulps for packaging papers”, foi desenvolvido por investigadores da Universidade da Beira Interior (UBI), com o apoio do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel (Laboratório de R&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia). Avaliou o potencial de reciclabilidade de diferentes fibras para perceber de que forma a reciclagem altera a sua estrutura e propriedades físicas e químicas.
Os resultados foram publicados na Tappi Journal, revista científica reconhecida internacionalmente há mais de 60 anos, e confirmam conclusões anteriores a que a Tokyo University of Agriculture and Technology tinha chegado em 2001: as fibras da espécie Eucalyptus globulus são capazes de suportar, no mínimo, cinco vezes mais ciclos de reciclagem do que fibras de outras espécies, sem perderem características de alto desempenho.
Fica assim, mais uma vez, demonstrada a maior reciclabilidade do eucalipto português e a sua excelente aptidão para os papéis de embalagem – como os que são produzidos a partir de pasta não branqueada de Eucalyptus globulus pela The Navigator Company, mentora do projeto My Planet.