Nem todas as árvores perdem as folhas quando os dias começam a ficar mais curtos e menos quentes. As espécies que se mantêm sempre verdes desenvolveram outras estratégias de sobrevivência.
Na língua inglesa, chamam-se evergreen, ou seja, “sempre verdes”. Em português, são as comumente chamadas árvores de folha perene ou persistente, sendo o nome técnico um pouco mais difícil: perenifólias. O Outono é aquela época em que se destacam especialmente na paisagem. Enquanto as caducifólias (árvores de folha caduca) vão mudando as suas cores, de forma exuberante, e perdendo as suas folhas até ficarem completamente despidas, as perenifólias resistem sempre verdes, como indica o nome que lhes foi atribuído pelos anglo-saxónicos. Estas árvores e arbustos mantêm o mesmo aspeto ao longo de todo o ano, indiferentes à descida das temperaturas e à redução do tempo de luz do sol que recebem nas suas folhas.
É o caso, por exemplo, do loureiro e do medronheiro, do sobreiro e da azinheira, do pinheiro e do eucalipto, e dos abetos e ciprestes. Mas não se pense que estas espécies mantêm as mesmas folhas durante todo o seu tempo de vida. Basta pensar num pinhal e na caruma que se acumula no solo, fruto da queda das agulhas (as folhas do pinheiro). Simplesmente, a renovação destas folhas não acontece, como nas caducifólias, de modo simultâneo e num determinado período do ano, deixando as árvores de ramos despidos durante os meses mais frios. Pelo contrário, a renovação é feita de forma muito gradual e a um ritmo mais ao menos constante, havendo sempre folhas que caem e outras que vão nascendo.
A queda total das folhas é uma estratégia de certas espécies para enfrentarem o frio, nas regiões do globo em que as estações do ano são muito marcadas e em que as temperaturas no outono e no inverno são muito mais baixas do que na primavera e no verão. Não tendo de continuar a “alimentar” as folhas, as árvores reservam essa energia para sobreviverem ao frio.
Já as espécies perenifólias desenvolveram estratégias diferentes. As suas folhas são tendencialmente mais espessas e rijas, muitas vezes com uma espécie de revestimento ceroso, e podem permanecer na árvore durante vários anos. Além disso, são capazes de reter a humidade durante todo o ano, em climas mais quentes, o que as torna espécies mais resistentes em certas condições menos favoráveis. Algumas espécies de folha perene produzem e acumulam substâncias que funcionam como crio-protetores, reduzindo o ponto de congelamento e protegendo as estruturas celulares. Há também espécies capazes de, quando o inverno se aproxima, retirar água das células das suas folhas, transportando-a para tecidos mais internos, para que o frio extremo não destrua as suas folhas.
As perenifólias na floresta portuguesa
As folhosas perenifólias, que formam os montados de sobro (Quercus suber) e de azinho (Quercus ilex L.), juntamente com os pinhais, ocupam 63% da área florestal de Portugal Continental – segundo dados referentes a 2015 que constam do Relatório Completo do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6) do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), divulgado em novembro de 2019. A maioria das árvores nos bosques autóctones das regiões norte e centro litoral são de folha caduca. Já no sul do país predominam as espécies de folha persistente.
O cenário atual é diferente do que existia antes da última glaciação, que terminou há cerca de 12 mil anos. A floresta era então, no território que é hoje Portugal Continental, igualmente constituída por árvores de folha perene, mas de outras espécies. A Família Lauraceae (à qual pertence o loureiro) predominava, daí que esse tipo de floresta tenha recebido a denominação de Laurissilva. Ainda hoje existe em Portugal, mas apenas nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.