Ler em papel é uma experiência insubstituível, com inúmeros benefícios, seja qual for a idade. O turismo literário assenta no prazer desta experiência e é uma forma fascinante de conhecer os autores, para além das obras.
É uma jornada no tempo. Uma viagem ao passado, onde as paredes das casas sussurram histórias. Mergulhar no universo doméstico e íntimo dos grandes escritores enriquece a ligação dos leitores aos seus autores de eleição. E se as histórias destes ganharam vida nas páginas dos livros que escreveram, elas tornam-se ainda mais ricas, densas e envolventes quando caminhamos pelas casas que habitaram. O turismo literário é um convite aos viajantes-leitores para uma experiência única.
Em Portugal, são vários os escritores que, de Norte a Sul do País, têm as suas casas transformadas em museus, ou casas-museu, abertas ao público, aumentando a oferta cultural de âmbito literário, para além das feiras e dos festivais. Uma variedade de objetos pessoais – fotografias de família, retratos dos escritores, cartas, manuscritos, primeiras edições, desenhos e notas marginais – revelam-nos detalhes sobre a personalidade, obsessões e fontes de inspiração dos autores, mas também nos iluminam sobre o processo criativo e fornecem uma perspetiva mais profunda e enriquecedora da obra literária.
Muitas casas preservam ainda a estrutura original, permitindo aos visitantes apreciar os quartos, móveis, bibliotecas e a atmosfera em que determinado escritor viveu e trabalhou. Algumas casas tinham jardins ou espaços ao ar livre, como é o caso da de Sophia de Mello Breyner, que também podem ser visitados, proporcionando ao leitor uma experiência mais completa.
Mas o turismo literário não se esgota nas paredes das casas-museu. É possível aos viajantes traçar os passos dos mestres da literatura através das ruas, praças e cafés, e sentir as atmosferas locais das diferentes regiões do país que inspiraram as palavras dos escritores.
Casas-Museu de Norte a Sul
Em Lisboa, ao entrar na Casa Fernando Pessoa, descobrimos o ambiente onde o poeta (e os seus muitos heterónimos) viveu durante os últimos 15 anos da sua vida. Os detalhes do quarto são impressionantes. Na parede estão penduradas as molduras com os diplomas e pequenos retratos; a cómoda original e o pormenor do cinzeiro ainda com beatas transporta-nos para a vivência de um poeta que era um fumador compulsivo.
A Norte, em pleno Douro Vinhateiro, a Casa de Tormes, que pertenceu a Eça de Queiroz, alberga muitas peças pertencentes ao autor, como mobiliário e objetos pessoais, metodicamente colocados na sala de entrada, biblioteca, sala museu, sala de estar, quarto, cozinha, capela e varanda.
Já a casa de Teixeira de Pascoaes, em Amarante, conserva ainda o espólio do poeta – a biblioteca repleta de livros, a secretária com o material de escrita e a cadeira onde criou os poemas que ficaram para a história da literatura nacional.
A vida infeliz e trágica de Camilo Castelo Branco pode ser “sentida” na sua casa de Vila Nova de Famalicão, decorada com as peças pertencentes à família, onde se destaca a sala com o piano da sua mulher, Ana Plácido, os retratos dos filhos e a cadeira onde o escritor se sentou e pôs termo à vida, no fatídico 1 de junho de 1890.
No Porto, para além da casa de Sophia de Mello Breyner, uma quinta onde a poetisa nasceu e cresceu, a brincar livremente pelos jardins, pode ainda ser visitada a casa de Almeida Garrett.
A Casa-Museu Miguel Torga, em Coimbra, é preenchida por um acervo de documentos, fotografias, primeiras edições, mobiliário adquirido em antiquários, cerâmica, pintura e escultura. Ainda na zona de Coimbra, em Condeixa-a-Nova, a Casa Fernando Namora tem também as portas abertas.
Já no Alentejo, em Vila Viçosa, o espólio de Florbela Espanca, a poetisa que “amou perdidamente”, pode ser descoberto na casa onde nasceu e viveu a adolescência, no nº 59 da Rua Florbela Espanca (antiga Rua da Corredoura). Ali, é possível observar textos manuscritos, cartas, postais, fotografias e objetos pessoais desta figura feminina considerada tão à frente do seu tempo.
Portas abertas também para os mais novos
Num momento em que cada vez mais vozes e estudos científicos vêm defender e demonstrar a importância e os benefícios de ler livros, sobretudo no modo tradicional, em papel, fazer em família este tipo de viagens é uma forma de aproximar os mais novos do universo dos escritores e, indiretamente, promover a curiosidade pelas suas obras e o prazer de ler. Em algumas das casas-museu há mesmo atividades dedicadas especialmente a crianças e adolescentes. Na Casa Andresen, por exemplo, que pertenceu à família da poetisa Sophia de Mello Breyner, após a visita à casa e ao jardim, pais e filhos podem participar numa oficina de escrita criativa personalizada, onde são ensinadas ferramentas de escrita aplicáveis a diversas áreas. Também na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, há oficinas para famílias e atividades exclusivamente para crianças.