Os jovens estão a ler mais e preferem ler em papel. Estudos recentes demonstram as inúmeras vantagens que essa preferência lhes oferece.
Independentemente das razões que têm contribuído para fazer aumentar o gosto dos jovens pela leitura, uma coisa é inegável: o livro em papel resiste e tem cada vez mais adeptos. Esta parece ser uma tendência que veio para ficar, contrariando o domínio avassalador do digital. Os estudos provam-no.
O Two Sides Trend Tracker Survey 2023, uma sondagem que avalia 10.000 consumidores em 16 países em todo o mundo, mostrou que 65% dos inquiridos prefere ler livros impressos (53% em 2021) e 51% revistas impressas (contra 35% em 2021). Já o WordsRated, um grupo internacional de pesquisa e análise de dados da indústria editorial, revelou em junho deste ano que “os livros físicos ainda dominam o mercado”, com a receita de livros impressos a crescer 5,39% desde 2018.
Finalmente, a última pesquisa do Pew Research Center, em 2021, mostra que, nos Estados Unidos, os livros impressos continuam a ser o formato mais popular, com 65% dos adultos a referir ter lido um livro nos 12 meses anteriores, contra apenas 30% que referem ter lido um e-book. E, curiosamente, são os mais jovens entrevistados (68%, entre os 18 e os 29 anos) e os que têm formação superior (80%) que preferem a leitura em papel.
Vantagens do papel
Para lá das razões que justificam esta resiliência do mercado editorial, a verdade é que o papel encerra atributos incomparáveis – seja na leitura por prazer ou na aprendizagem –, com as neurociências e a psicologia a demonstrar as suas vantagens face ao suporte digital. Eis alguns exemplos.
Uma meta-análise efetuada pela Universidade de Valência, com trabalhos publicados entre 2000 e 2018, que envolveram 170.000 estudantes em 19 países, sugere um “efeito de superioridade do papel” na aprendizagem (sobretudo abaixo dos 20 anos), com uma clara vantagem sobre o digital na compreensão de leitura, em particular quando há restrições de tempo e/ou os textos são de cariz informativo. Além disso, revela, o papel permite um desempenho superior na aprendizagem e compreensão no ensino básico, o que leva os autores a sublinharem que os ambientes digitais nem sempre são os mais apropriados para uma melhor retenção de conhecimentos.
Outro estudo, que analisou os resultados estatísticos de uma pesquisa sobre preferências e comportamentos de leitura académica de 10.293 estudantes do ensino superior em todo o mundo, mostrou que a grande maioria prefere ler materiais impressos, relatando melhor foco e retenção das informações, especialmente se forem documentos extensos. Os alunos indicam uma clara preferência por papel para tarefas que incluem atenção e revisão, enaltecendo este formato enquanto facilitador de concentração e memória.
Na sequência destes trabalhos, no início de 2019, mais de uma centena de investigadores e cientistas europeus assinaram a “Declaração de Stavanger”, alertando professores e educadores para o facto de que uma transição do papel impresso e escrito à mão para meios digitais poderá causar atraso no desenvolvimento das crianças, na compreensão da leitura e no desenvolvimento do pensamento crítico.
E não é só na leitura que o papel oferece vantagens: vários estudos têm demonstrado que a escrita em papel devolve resultados superiores face à escrita num teclado de computador, promovendo o pensamento abstrato e proporcionando um melhor desempenho na resposta a questões conceptuais, uma melhor retenção do conhecimento e uma maior atividade cerebral.
Futuro do papel assegurado
O estudo Horizon 2030, promovido pela The Navigator Company, analisou mais de 500 estudos, papers e livros. E concluiu que as vantagens do papel sobre os ecrãs nos processos de aprendizagem, aquisição de conhecimento, desenvolvimento cognitivo e compreensão de textos informativos e complexos estão comprovadas. E o futuro do papel assegurado.
Na atual cultura digital, e em todos os grupos etários, o papel traz uma variedade de benefícios cognitivos, conforme estudos efetuados por universidades conceituadas. Por exemplo, no campo da neurociência há estudos a demonstrar uma clara ligação entre o movimento do braço – especialmente a escrever e desenhar – e o processo neurológico de aprendizagem; no campo da psicologia existem estudos a evidenciar que a escrita à mão potencia a aprendizagem e a performance conceptual; e outros estudos académicos concluíram que ler em papel, por oposição à leitura em dispositivos digitais, promove o pensamento abstrato, a concentração e um menor cansaço ocular.
Alguns dos estudos neurológicos, a par das preferências dos estudantes, fizeram com que o uso do papel passasse a ser um comportamento encorajado nas principais universidades norte-americanas, nomeadamente em Harvard, Columbia, Cornell, Pennsylvania, MIT e Yale.
Os alunos indicam uma clara preferência por papel para tarefas que incluem atenção e revisão, enaltecendo este formato enquanto facilitador de concentração e memória.