Desplastificar o futuro

8 de Abril 2024

Banir os plásticos de uso único e assegurar que, até 2030, todas as embalagens sejam recicláveis, são duas importantes metas do acordo recentemente alcançado pela União Europeia sobre uma nova lei para reduzir o plástico de origem fóssil.

Com o objetivo de combater o aumento dos resíduos de embalagens produzidos no espaço europeu e de impulsionar a economia circular, os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) chegaram recentemente a um acordo provisório para uma nova lei que estabelece elevadas restrições aos plásticos de uso único.

O novo Regulamento Embalagens e Resíduos de Embalagens da UE – que ainda precisa da aprovação do Parlamento Europeu e dos governos de cada Estado-membro –, determina que, até 2030, todas as embalagens colocadas no mercado europeu sejam recicláveis. Esta proposta surge num contexto em que, apesar de as taxas de reciclagem na UE terem vindo a aumentar, a quantidade de resíduos produzidos a partir das embalagens está a crescer mais rapidamente do que a reciclagem.

O acordo estabelece ainda uma redução dos resíduos de embalagens de 5% até 2030 e 15% até 2040, tendo o ano de 2018 como referência.

2030 é também o ano para a proibição dos artigos de plástico de uso único: incluem-se os sacos leves e transparentes usados para fruta e legumes nos supermercados, os pratos, copos e caixas descartáveis utilizados nos restaurantes de fast-food, os frascos de champô e outros produtos de higiene dos hotéis, e as embalagens descartáveis para embalar malas nos aeroportos.

Nas embalagens que entram em contacto com os alimentos será também proibida a utilização dos chamados “químicos eternos” (substâncias que não se degradam e se acumulam nos organismos vivos, com impactos na saúde humana e no ambiente).

Novos hábitos têm levado a um aumento dos resíduos de embalagem

Cada europeu gera 189 kg de resíduos de embalagens por ano, segundo os dados mais recentes do Eurostat. Na última década, estes resíduos aumentaram quase 25% – um crescimento impulsionado pelas compras online e pelos hábitos de consumo “grab and go” (“pegar e levar”). Caso não sejam tomadas medidas – realidade que a nova lei pretende evitar–, prevê-se, até 2030, um aumento de mais 19%, elevando a marca do consumo per capita para os 200 kg. Embora abaixo da média europeia, cada português produziu, em 2021, 177 kg de resíduos de embalagem.

O problema principal é que uma parte significativa destes resíduos são o chamado plástico de uso único, de origem fóssil, que representa uma séria ameaça aos ecossistemas terrestres e aquáticos. A sua produção em massa e utilização generalizada resultam em enormes quantidades de resíduos que contaminam os oceanos, prejudicam a vida marinha e acabam por entrar na cadeia alimentar, trazendo riscos para a saúde humana.

 

Papel e celulose: alternativas renováveis aos plásticos de origem fóssil

Uma nova geração de bioprodutos capazes de substituir os de base fóssil, nomeadamente os plásticos de uso único na área da embalagem, está a ser desenvolvida a partir de matérias-primas renováveis, com origem em florestas geridas de forma sustentável e plantadas especificamente para esse fim.

A The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, tem investido, nos últimos anos, na produção de conhecimento científico nesta área e na forma de o transpor para a produção industrial. Um intenso trabalho das equipas de investigadores do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, Laboratório de I&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia, tem permitido o desenvolvimento de produtos a partir da fibra de Eucalyptus globulus capazes de assumir um papel importante no esforço de redução dos plásticos de uso único.

Lançada pela empresa no final de 2021, a marca gKRAFT – que propõe papel de embalagem para múltiplos segmentos –, vai, em breve, ser reforçada com uma nova gama de embalagens rígidas, feitas de celulose moldada, para o setor alimentar. Produzidas a partir de fibra virgem de eucalipto, são dotadas de propriedades barreira e respeitam todas as regras de segurança para o contacto com alimentos. A celulose é hoje reconhecida como um dos supermateriais do futuro e pode oferecer inúmeras soluções renováveis para a substituição dos materiais de origem fóssil.

Uma nova geração de bioprodutos capazes de substituir os plásticos de uso único, nomeadamente na área da embalagem, está a ser desenvolvida a partir de matérias-primas renováveis, com origem em florestas geridas de forma sustentável e plantadas especificamente para esse fim.