É urgente passar de um modelo de desenvolvimento linear e fóssil para uma economia circular, favorável para a natureza e neutra para o clima. A floresta oferece caminhos sustentáveis e respostas renováveis
Nunca se falou tanto de economia circular como ao longo dos últimos cinco anos, nos quais o volume de discussões, debates e artigos sobre o conceito quase triplicou. Apesar desta tendência, a circularidade global está em declínio. A análise é do Circularity Gap Report 2024, que expõe a dura realidade: em 2023, a percentagem de materiais secundários consumidos pela economia mundial foi de apenas 7,2% dos mais de 500 mil milhões de toneladas que utilizámos. Um valor que tem vindo a diminuir face a 2018, quando foi lançado o primeiro Circularity Gap Report, no Fórum Económico Mundial, em Davos, que era de 9,1%.
Ou seja, apesar da crescente consciência da necessidade de uma economia mais circular, na prática as coisas não estão a mudar. Os sistemas económicos dominantes permanecem alicerçados numa mentalidade linear e na crescente sobre-exploração dos recursos. Mas se queremos ter ainda alguma hipótese de cumprir a metas estabelecidas para o aquecimento global, temos de fazer a transição para uma economia circular, cujo princípio seja “extrair/reciclar–produzir–reutilizar/reciclar”.
Idealmente, os recursos circulariam infinitamente num ciclo fechado, através da reutilização e recuperação contínuas. Mas no mundo real, seja por ineficiências dos processos ou limitações tecnológicas e/ou físicas, alguns perdem-se no caminho. Assim, a solução mais eficaz para seguirmos o caminho da circularidade é substituir os recursos não renováveis por renováveis, que têm a capacidade de ser regenerados de forma sustentável, aumentando o potencial de nos permitir satisfazer as necessidades da Humanidade, permanecendo dentro dos limites do Planeta – é a chamada bioeconomia circular.
Neste novo paradigma económico, a floresta desempenha um papel crucial. Porque é o maior sumidouro terrestre de carbono, é o principal hospedeiro da biodiversidade terrestre e é a nossa maior fonte de recursos biológicos não alimentares. Na bioeconomia circular de base florestal, os recursos biológicos utilizados na produção de bens, além de renováveis e sustentáveis, têm origem na floresta.
Multiplicar benefícios
As florestas plantadas, quando geridas de forma responsável, não só proporcionam bens e serviços valorizados pelo mercado, como madeira, cortiça e resina, mas também oferecem uma variedade de serviços de ecossistema decorrentes de práticas de gestão sustentável. Estes incluem o sequestro de carbono, a produção de oxigénio, a promoção da biodiversidade, a proteção do solo, a regulação dos regimes hidrológicos torrenciais e a criação de amenidades paisagísticas.
Por isso, um modelo de bioeconomia que inclua a floresta é essencial, pois atua em três áreas complementares: aumentar o armazenamento de carbono nas florestas; melhorar a saúde e a resistência das próprias florestas, através da gestão florestal; e utilizar os recursos da madeira de forma sustentável, para substituir materiais não renováveis e intensivos em carbono fóssil. Os novos bioprodutos que podem surgir daqui incluem desde aditivos alimentares a biocompósitos, de biocombustíveis avançados à nanocelulose, substituindo materiais de origem fóssil em setores como embalagens, materiais de construção, têxteis, bioenergia, produtos farmacêuticos e componentes de automóveis. O futuro é bio, e passa pela floresta.