As alterações climáticas estão a pôr em risco a floresta da Lapónia. Mas um grupo de cientistas aponta uma solução baseada na natureza, que tem em conta o precioso contributo das fiéis ajudantes do Pai Natal.
Na Lapónia, terra mágica do Pai Natal, existe uma das mais importantes florestas boreais do mundo. Esta região, localizada no extremo norte da Europa, é dominada por densas florestas de coníferas que fazem parte do bioma boreal, também conhecido como Taiga. A magia destas paisagens e o seu equilíbrio ecológico estão sob ameaça devido aos efeitos cada vez mais intensos das alterações climáticas. A região é uma das mais afetadas pelo aquecimento global, com as temperaturas a subir mais rapidamente ali do que noutras zonas do planeta.
Um exemplo insólito ilustra esta realidade: este ano, muitos turistas viram as suas viagens à Lapónia canceladas devido à ausência de neve. Em cidades como Rovaniemi, na Finlândia, onde fica a casa do Pai Natal, registaram-se temperaturas anormalmente amenas em novembro. Em vez dos habituais 20 a 30 cm de neve que cobrem a região nesta época, apenas se observaram manchas dispersas de branco, que desapareceram com as chuvas de início de dezembro. Sem neve, perde-se parte da magia natalícia da Lapónia.
Temperaturas mais altas trazem uma cascata de problemas
A floresta boreal é predominantemente formada por pinheiros, abetos e larícios, espécies bem-adaptadas ao rigor do clima frio. Com as suas folhas em forma de agulha e a suanatureza perene, estas árvores desempenham um papel essencial no equilíbrio climático global, atuando como importantes sumidouros de carbono. Contudo, o aumento das temperaturas e a diminuição da humidade e das chuvas ameaçam este papel vital. Por um lado, registam-se incêndios florestais mais intensos; por outro, verifica-se uma proliferação de pragas de insetos que prejudicam a saúde das árvores, reduzindo a sua capacidade de crescimento e armazenamento de CO₂.
De acordo com um estudo recente publicado na revista Nature, as florestas boreais do Hemisfério Norte perderam 36% da sua capacidade enquanto sumidouros de carbono nas últimas três décadas, devido a incêndios, surtos de insetos e ao aquecimento do solo.
A degradação do permafrost, o solo congelado característico destas regiões, é outra ameaça significativa. À medida que descongela, liberta o dióxido de carbono armazenado, agravando o efeito de estufa e o aquecimento global. Paralelamente, a poluição está a tornar a atmosfera mais opaca nas regiões árticas, bloqueando os raios solares e afetando a fotossíntese. Este processo compromete o crescimento de novas plantas, o que ameaça a floresta boreal e o equilíbrio do ecossistema.
A biodiversidade e as comunidades locais
A floresta boreal é habitat de inúmeros animais, incluindo as renas – símbolos icónicos da Lapónia e, no imaginário coletivo, fiéis condutoras do Pai Natal na noite mais mágica do ano. Também acolhe vários outros mamíferos, como alces, lobos, bisontes, ursos, raposas, castores, e uma grande variedade de aves migratórias e aquáticas. As ameaças ao ecossistema colocam em risco esta biodiversidade.
Com o aquecimento global, muitas espécies deslocam-se para outras regiões em busca de condições mais favoráveis. Algumas adaptam-se, mas outras não, resultando numa perda de biodiversidade que afeta diretamente os modos de vida tradicionais das comunidades locais. O povo Sámi, indígena da Lapónia, depende deste equilíbrio ambiental para manter práticas ancestrais como a criação de renas, a pesca e a caça.
Uma solução baseada na natureza
Na procura de soluções para mitigar os efeitos do aquecimento global no Ártico, um grupo internacional de especialistas defende que apoiar as populações de grandes herbívoros, como as renas, pode ser um caminho promissor. Os resultados desta investigação, publicados recentemente na revista científica Nature Geoscience, apontam fortes evidências de que estes animais ajudam a arrefecer o ambiente nas regiões árticas.
Ao alimentarem-se da vegetação, as renas expõem mais o solo, diminuindo o seu efeito isolante e mantendo-o a temperaturas mais baixas. Este processo ajuda a retardar o degelo. Marc Macias-Fauria, professor do Scott Polar Research Institute da Universidade de Cambridge e coautor do estudo, explica: “Os grandes herbívoros podem reduzir a perda de biodiversidade provocada pelo clima nos ecossistemas do Ártico e continuar a ser um recurso alimentar fundamental para as comunidades locais”.