Há castores no Tejo… mas do lado espanhol

7 de Abril 2025

Em Espanha, os castores estão a voltar a povoar os rios. Recentemente, foram identificadas no Tejo, na região de Madrid. Para já, ainda não há notícias da sua presença em Portugal.

É o maior roedor que alguma vez habitou a Península Ibérica, mas esteve desaparecido deste território durante séculos. O castor-europeu (Castor fiber) foi reintroduzido, em 2003, em Espanha, num afluente do rio Ebro. Desde então, foi também identificado no Guadalquivir e num afluente do rio Douro, muito próximo da fronteira com Portugal.

Em 2024, foi anunciado que a espécie tem um novo spot no país vizinho. Foram avistados castores no rio Tejo, na zona de Guadalajara, perto de Madrid. A descoberta está descrita num artigo científico publicado na Galemys, a revista oficial da Sociedade Espanhola para a Conservação e Estudo dos Mamíferos (SECEM). No artigo – intitulado “Um castor no Tejo: uma nova localização” –, os autores, Marco Ansón e Celia García, explicam que, além de contacto visual com alguns exemplares, foram encontrados “por mais de um quilómetro, muitos sinais na vegetação indicando a presença de castores”.

O número exato de indivíduos ainda não é conhecido, mas foi possível identificar três grupos populacionais. Os investigadores acreditam, pelos vestígios estudados e pelo testemunho de habitantes locais, que estas comunidades de castores possam já estar naquele habitat há cerca de três anos.

O local fica a mais de 100 quilómetros da área mais próxima, anteriormente identificada, onde existem castores. “Devido à falta de registos entre as duas localizações, descartamos um evento de dispersão natural e consideramos mais provável que tenha acontecido uma libertação não oficial para explicar a presença da espécie nesta nova área”, pode ler-se no artigo.

Intervenção humana traz castores de volta

A intervenção humana estará, assim, na origem da presença da espécie em mais um rio em Espanha. Tal como aconteceu em 2003, no regresso do castor-europeu à Península Ibérica, não houve, por trás desta ação, qualquer plano oficial de gestão ou conservação da espécie. Este tipo de iniciativa tem os seus riscos.

“Não sabemos se estes espécimes eram saudáveis ​​ou se poderiam transmitir alguma doença”, alerta Marco Ansón em declarações à agência de notícias EFE. Ainda assim, até agora, tudo parece correr bem. Pela sua natureza, “é uma espécie que traz biodiversidade aos habitats em que vive, dinamização e interação entre diferentes espécies e, nesse sentido, não é problemática”, explica o investigador. A presença do castor pode ter até efeitos benéficos para o ecossistema fluvial, degradado pela introdução de espécies exóticas invasoras como o lagostim americano ou o lagostim telúrico, acrescenta.

É possível que o castor-europeu acabe por voltar também a Portugal. A proximidade dos exemplares identificados no afluente do Douro – a cerca de oito quilómetros da fronteira com o Douro Internacional – leva os especialistas a considerar essa hipótese. Mas, até agora, ainda não há notícias dele do lado de cá da fronteira.

Engenheiro de ecossistemas

O castor-europeu pode medir até 90 cm, 35 dos quais correspondem à cauda. O seu peso varia entre os 15 e os 30 quilos. É considerado um “engenheiro de ecossistemas” pela sua habilidade única de construir pequenas barragens ou açudes, nos cursos de água, com o objetivo de se proteger dos predadores. Mas também para criar zonas de águas mais profundas, onde pode nadar livremente. Essa sua atividade contribui para o enriquecimento da biodiversidade dos rios, pois as suas pequenas barragens tornam-se micro-habitats para outras espécies animais e vegetais.