A bioeconomia já entrou na nossa vida

7 de Setembro 2023

A solução anunciada para um futuro sustentável já oferece alternativas, no presente. Conheça alguns exemplos de como a bioeconomia de base florestal está a mudar o nosso carrinho de compras.

É a natureza que providencia, mas é a tecnologia que tem permitido colocar no mercado soluções inovadoras, que são uma alternativa a uma economia linear dependente das fontes fósseis. A opção dos consumidores por estes novos bioprodutos, de origem natural e renovável, permitirá aumentar a sua escala de produção, baixar preços e criar ainda mais oferta.

Os produtos de base florestal têm-se constituído como alternativa aos plásticos, sobretudo os de uso único, em embalagens e utensílios. Pela descarbonização, pela circularidade da economia e pela aposta em matérias-primas não fósseis e renováveis, a legislação exige essa substituição e o papel tem estado na linha da frente das alternativas mais sustentáveis.

Em Portugal, a The Navigator Company lançou, em 2021, uma gama de papéis para embalagem, sob a marca gKRAFT – uma solução pioneira no mundo, ao utilizar a fibra virgem de eucalipto globulus para substituir os plásticos de uso único que dominam o mercado do packaging. Esta gama inclui papel para sacos, para embalagens flexíveis destinadas, por exemplo, à indústria alimentar, e para caixas de cartão canelado. Atualmente, são várias as marcas mundiais de grande visibilidade que incluem nos seus sacos de papel o logótipo gKRAFT, como símbolo da mudança dos materiais fósseis para os sustentáveis de base florestal.

A Coca-Cola anunciou estar a desenvolver uma garrafa 100% de papel.

Para além da Navigator, são muitas as grandes empresas que se têm envolvido nesta dinâmica. Por exemplo, a Coca-Cola anunciou estar a trabalhar para desenvolver uma garrafa 100% de papel. E a Nestlé tem vindo a substituir as embalagens de plástico por cartão – não reparou que o icónico tubo dos chocolates Smarties é agora um hexágono feito com papel 100% reciclável?

Fibra à base de celulose, produzida com uma tecnologia que não utiliza químicos, está já a ser utilizada por marcas como a Adidas.

Têxteis que vestem a camisola da bioeconomia

Sabia que a viscose é feita a partir de celulose e que pode ter por base a pasta de madeira? Tem, por isso, vantagens em relação ao poliéster (que é sintetizado a partir de petroquímicos), exige menos utilização de solo que a produção de lã, e, em comparação com o algodão, consome menos água e menos fertilizantes e pesticidas. O Lyocell, um tecido produzido com pasta de madeira proveniente de florestas sustentáveis, sem recurso a químicos, tem ganho protagonismo e faz já parte do catálogo de várias marcas, da roupa de cama ao pronto a vestir.

Segundo o Instituto Europeu da Floresta, os tecidos de base celulósica representam 7% do setor têxtil e, em Portugal, a indústria já está a ser abastecida com pasta de eucalipto. A empresa Tintex, de Vila Nova de Cerveira, incorpora pelo menos 60% de materiais sustentáveis, incluindo fibras de celulose regeneradas e cortiça. E a empresa Filasa, de Guimarães, produz viscose obtida da madeira, com poupanças no consumo de água e na emissão de gases com efeito de estufa na ordem dos 50%, relativamente à viscose genérica.

 A verdadeira pegada ecológica

O setor do calçado coloca nas prateleiras várias opções que incorporam matérias-primas de base florestal. A edição Earthkeepers, da Timberland, inclui modelos com a parte superior constituída por um tecido de Lyocell, feito de 70% de eucalipto e 30% de algodão reciclado.

A sola do calçado Plant Shoe (fabricado em Portugal), da canadiana Native Shoes, é criada a partir da seiva da árvore-da-borracha e tem um forro interior de viscose de eucalipto. O eucalipto e a borracha natural (em vez da borracha à base de petróleo) também fazem parte dos ténis Forever Floatride Grow, da Reebook.

 A mudança a acelerar nos automóveis

Na Europa, todos os anos a indústria automóvel utiliza cerca de 80 mil toneladas de madeira e de fibras vegetais, em vez das sintéticas fibras de vidro e de carbono, segundo dados da Comissão Europeia. Os biocompósitos são cada vez mais populares porque permitem diminuir o peso dos carros, o que melhora a sua performance e reduz as emissões de CO2.

São cada vez mais os modelos que pretendem fazer a diferença nas estradas. É o caso, por exemplo, do Hyundai IONIQ, no qual a marca aumentou o uso de bioplásticos com maior proporção de fibra de madeira nas portas e nos interiores, para além de utilizar tecido Tencel feito de eucalipto nos bancos. Também a Land Rover criou um tecido exclusivo, chamado “Eucalyptus Melange”, que está na lista de opcionais dos estofos do novo Range Rover Evoque.

Os bioplásticos baseados em matérias-primas biológicas, como a celulose florestal, já estão presentes em produtos que vão das embalagens alimentares aos brinquedos e utensílios de uso único.

Bioquímicos e bioplásticos

Uma parte relevante dos químicos atualmente usados na medicina e na farmacêutica, nos detergentes e perfumes, e nos plásticos, pode ser obtida através do processamento de biomassa. A Braskem, no Brasil, tem uma fábrica de polietileno, para produção de plásticos a partir de açúcares de biomassa. E o grupo finlandês UPM está a avançar com um investimento de 500 milhões de euros na Alemanha, para a produção de bioquímicos a partir da madeira.

Os bioplásticos – polímeros baseados em matérias-primas biológicas renováveis e/ou biodegradáveis – já estão presentes em inúmeros produtos, desde dispositivos eletrónicos, brinquedos ou recipientes alimentares, como a garrafa de ketchup da Heinz, que incorpora até 30% de fibras celulósicas e é 100% reciclável.

Os tecidos de base celulósica representam 7% do setor têxtil e, em Portugal, a indústria está a ser abastecida com pasta dissolvida de eucalipto.