A floresta dentro das cidades

21 de Fevereiro 2024

São duas torres residenciais, em Milão, revestidas de 900 árvores, cinco mil arbustos e quinze mil plantas perenes. A Floresta Vertical, um projeto que mostrou como é possível trazer mais natureza ao espaço citadino, faz 10 anos.

Tudo começou no Dubai. Foi numa visita àquele emirado, em 2007, que o arquiteto italiano Stefano Boeri ganhou aversão às “cidades minerais de aço e vidro” e começou a idealizar formas de acrescentar natureza aos seus projetos, através da arquitetura biofílica. Na sua cabeça, nasceu a Floresta Vertical (“Bosco Verticale”): dois arranha-céus revestidos do verde de milhares de árvores, arbustos e plantas.  “Uma casa para árvores habitada por humanos”, assim descreveu o arquiteto este projeto, inaugurado a 17 de outubro de 2014, e que levou cinco anos a ser construído.

Juntas, as duas torres, de 26 e 18 andares, situadas no centro de Milão, têm a revesti-las 900 árvores, cinco mil arbustos e quinze mil plantas perenes, que contribuem para mitigar a poluição atmosférica e para melhorar a qualidade do ar. Além disso, promovem a biodiversidade, ao atraírem novas espécies de pássaros e insetos para a cidade. Mas as vantagens não terminam aqui: a vegetação modera a temperatura dos edifícios no inverno e no verão e protege os espaços interiores da poluição sonora e da poeira do tráfego citadino. Reconhecida como a primeira torre biológica e sustentável no mundo, a Floresta Vertical tem ainda a mais-valia de alojar geradores eólicos na sua cobertura e painéis fotovoltaicos nas fachadas, melhorando a eficiência energética.

Todas estas inovações idealizadas por Stefano Boeri valeram-lhe dois prémios. A 19 de novembro de 2014, recebeu o Internacional Highrise Award, distinção concedida a um arranha-céus que combina sustentabilidade e design, levando ainda em consideração os aspetos sociais relacionados com o planeamento urbano. Mais tarde, a Floresta Vertical foi considerada o “Melhor Edifício Alto do Mundo de 2015” pelo Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano. No próximo mês de outubro, a Floresta Vertical completa 10 anos de (muita) vida.

Expandir a floresta pelo mundo

O pulmão verde que Stefano Boeri erigiu em Milão foi de tal forma bem-acolhido que o arquiteto italiano teve portas abertas, na Europa e no mundo, para projetar mais edifícios assentes na arquitetura biofílica. Construiu Florestas Verticais em Paris (França), Eindhoven e Utrecht (Holanda), Lausanne (Suíça) e Nanjing Pukou (China), tendo ainda desenhado um plano urbano sustentável para a cidade de Liuzhou (China), que foi apresentado na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em 2015.

Benefícios da arquitetura biofílica

Tendo como característica principal a integração da natureza nos projetos, a arquitetura biofílica valoriza, por exemplo, a entrada de luz natural nos ambientes e traz para os espaços interiores e exteriores elementos como plantas, água ou pedras. Outra marca importante é a utilização de materiais sustentáveis, como madeira certificada, vidros de baixo consumo energético, tintas naturais e revestimentos orgânicos, o que não só reduz o impacto ambiental dos edifícios, como ajuda a desenvolver um ambiente sem substâncias tóxicas.