A importância dos polinizadores

13 de Setembro 2021

Segurança e saúde alimentar, agricultura sustentável, equilíbrio ambiental e dos ecossistemas, biodiversidade… Estes temas sérios e essenciais estão nas mãos, ou melhor, nas patas, de vários animais que a atividade humana está a dizimar.

Não são só as abelhas. Por todo o mundo, cada vez mais espécies de animais polinizadores têm vindo a desaparecer, devido, sobretudo, à atividade humana. No entanto, é deles – abelhas, moscas, pássaros, borboletas, morcegos, roedores, esquilos, répteis e até macacos – que depende quase 35% da produção agrícola mundial. São eles que melhoram o rendimento de 87 das culturas alimentares mais cultivadas no mundo, além de muitas plantas medicinais. Globalmente, três quartos das culturas que produzem frutas ou sementes para consumo humano e 90% das espécies de flores silvestres dependem, pelo menos em parte, dos polinizadores.

Estes números da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) traduzem o importante papel da polinização e a sua contribuição para a segurança alimentar, a agricultura sustentável, a saúde ambiental e dos ecossistemas, o enriquecimento da biodiversidade e muitos outros aspetos do desenvolvimento sustentável.

Razões para a União Europeia (UE) estar preocupada com o facto de, atualmente, quase 35% dos polinizadores invertebrados, especialmente abelhas e borboletas, estarem sob risco, assim como 17% dos vertebrados, como os morcegos (espécie atraída por flores que abrem durante a noite). As abelhas – apesar de serem conhecidas mais de 20 mil espécies – estão sob um risco de extinção 100 a mil vezes mais alto que o normal, devido, principalmente, à agricultura intensiva (com a consequente desflorestação e intensificação do uso de agroquímicos), às espécies exóticas invasoras (por exemplo, a vespa velutina) e às alterações climáticas, que alteram habitats.

Pela saúde e contra a pobreza

Na Europa, onde os principais polinizadores são as abelhas, borboletas, besouros, sirfídeos (moscas-das-flores), traças e vespas, existem 200 espécies selvagens de abelhas, sendo a Apis melífera, ou abelha-europeia, a mais conhecida. Esta espécie está associada aos apicultores e à produção de mel e de outros produtos das colmeias utilizados nas indústrias alimentar e farmacêutica, como pólen, cera, própolis, geleia-real, e até apitoxina (o veneno de abelha usado na apiterapia, muito valorizada no leste europeu e nos países asiáticos).

Estes serviços ecológicos e económicos prestados pelos polinizadores, mas em especial pelas abelhas, estão avaliados pela Plataforma Intergovernamental Científica e Política sobre a Biodiversidade e os Serviços Ecossistémicos em 577 mil milhões de dólares. Na Europa, estima-se que estes contribuam com pelo menos 22 mil milhões de euros por ano para a indústria agrícola, ao assegurarem a polinização de mais de 80% das colheitas e das plantas silvestres europeias, a que se soma os produtos da apicultura.

A preocupação com a redução acentuada do número de colónias de abelhas, sentida especialmente nos países no Oeste da UE, levou a Comissão Europeia a implementar algumas medidas de prevenção da sua mortalidade, nomeadamente a redução do uso de pesticidas. Contudo, muitos outros países no mundo, como os Estados Unidos, a Rússia e o Brasil, estão a sentir o mesmo problema, o que significa que estamos perante uma crise global.

Portugal no mapa

Em Portugal, onde existem mais de 1 000 espécies de insetos polinizadores, entre abelhas, abelhões, vespas, moscas, borboletas, escaravelhos e formigas, o Programa Apícola Nacional (PAN) para o triénio 2020-2022 traduz o objetivo europeu de melhorar as condições gerais de produção e comercialização de produtos apícolas. Fica-se a saber, no documento, que o país mantém uma tendência crescente de número de apiários, e que, na União Europeia, existem 17 milhões de colmeias.

No relatório de 2020 da ONU sobre as florestas e as árvores na promoção da polinização por abelhas, borboletas e outros animais, onde se defende que é urgente interromper a degradação do habitat destas espécies e proteger a biodiversidade, o nosso país mereceu ser citado, com a FAO a destacar a importância dos matagais ribeirinhos, das matas ciliares e das florestas como recursos essenciais para abrigarem polinizadores. Isto porque os estudos mais recentes reforçam a ideia de que os “polinizadores domesticados”, como as abelhas, complementam, mas não substituem os polinizadores selvagens no equilíbrio dos ecossistemas.

Mais do que aumentar a produção, o trabalho desenvolvido por estes insetos, que visitam todas as flores na mesma altura, permite produzir com mais qualidade, frutos mais bem formados e de calibre idêntico, que amadurecem na mesma altura, aumentando a sua valorização e reduzindo o período de colheita e, por consequência, também os custos.

O resultado de um trabalho perfeito, como só a natureza sabe fazer.