A natureza em perigo e o poder do restauro

20 de Novembro 2025

A mais recente atualização da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, divulgada pela UICN, mostra um aumento no número de espécies em perigo em todo o mundo. As aves e os polinizadores estão entre os grupos mais afetados, mas também há exemplos de recuperação que provam que o restauro da natureza dá resultados.

A edição de 2025 da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) acrescentou mais de sete mil avaliações e reavaliações, elevando para 172.600 o número total de espécies listadas, das quais 48.600 estão ameaçadas de extinção (classificadas como “Vulneráveis”, “Em Perigo” ou “Criticamente em Perigo”). A tendência é preocupante: segundo os dados apresentados no Congresso Mundial de Conservação da UICN, realizado em outubro, 61% das aves avaliadas apresentam populações em declínio, uma subida expressiva face aos 44% registados na anterior revisão, em 2016.

Entre as principais causas estão a perda de florestas para expansão agrícola, a intensificação do cultivo, o abate descontrolado de árvores e as alterações climáticas, que agravam pressões já existentes. A caça, as espécies invasoras e a degradação de habitats completam o retrato de um cenário global de regressão.

Polinizadores em queda livre

O relatório da UICN trouxe também más notícias para a Europa: pelo menos 172 espécies de abelhas selvagens estão hoje em risco de extinção, mais do que o dobro das 77 identificadas em 2014. Num universo de 1928 espécies avaliadas, o levantamento, pedido pela Comissão Europeia, confirma assim que 10% das abelhas selvagens europeias enfrentam ameaça direta, sobretudo devido à agricultura intensiva, à poluição e ao aumento das temperaturas.

As borboletas europeias seguem o mesmo caminho: quase 15% das espécies avaliadas encontram-se ameaçadas, e mais de 40% das endémicas estão em risco ou próximas da ameaça. A atualização confirma a extinção da borboleta-branca-da-Madeira (Pieris wollastoni), espécie endémica do arquipélago.

Para inverter este declínio, a Comissão Europeia frisou a necessidade de “ação urgente e coletiva para enfrentar esta ameaça”, reforçando o “Novo Pacto para os Polinizadores”, que inclui medidas como a redução da poluição luminosa, o controlo do uso de pesticidas e o reforço do aconselhamento agrícola para proteger habitats naturais. Paralelamente, está em curso a criação do EU PoMS, o primeiro sistema europeu de monitorização de polinizadores, que uniformiza metodologias e dados entre países.

A meta é clara: agir de forma concertada e eficaz, para evitar que o desaparecimento destas espécies comprometa a segurança alimentar e a biodiversidade do continente.

Quando o restauro funciona

Nem tudo são más notícias. Na Ilha Rodrigues, no Pacífico, duas aves endémicas – o tecelão-de-Rodrigues (Foudia flavicans) e a felosa-de-Rodrigues (Crocephalus rodericanus – deram um exemplo inspirador. Nos anos 60, restavam apenas alguns casais de cada espécie; hoje, contam-se mais de 20 mil indivíduos de ambas, tendo sido classificadas como “Pouco Preocupantes”. A recuperação foi possível graças a décadas de restauro florestal e controlo de espécies invasoras, mostrando que a natureza responde quando lhe damos espaço para se regenerar.

A UICN sublinha que o restauro é um antídoto comprovado contra a perda de habitats e a extinção de espécies, e alerta para a urgência de os governos cumprirem os compromissos assumidos nas convenções internacionais de biodiversidade.

Entre as soluções em estudo, a UICN aprovou também o uso controlado da biologia sintética em conservação – um campo da ciência que aplica técnicas de engenharia genética para apoiar a recuperação de espécies e habitats. Estas tecnologias poderão, no futuro, ajudar a restaurar diversidade genética perdida, aumentar a resistência das espécies e até eliminar ameaças invasoras.

Num planeta em rápida mudança, esta atualização da Lista Vermelha deixa uma mensagem inequívoca: a crise da biodiversidade é real, mas a solução ainda está nas nossas mãos.