A natureza faz-nos bem

14 de Janeiro 2022

Os espaços verdes ajudam a combater a solidão nas grandes cidades, refere um novo estudo.

A importância da natureza nas nossas vidas e na nossa saúde está amplamente documentada. Do lado físico, por exemplo, o ar puro que se inspira numa floresta melhora a pressão arterial, aumentando a oxigenação do sangue e fazendo o coração bater menos, por estar mais relaxado. Mentalmente, ajuda a combater a depressão, nomeadamente nos tempos de confinamento que temos vivido intermitentemente, e a aliviar o stress.

Agora, um novo estudo refere que os espaços verdes ajudam também a aliviar a solidão nas áreas urbanas.

As conclusões, publicadas na revista Scientific Reports, analisam as avaliações fornecidas por mais de 750 participantes, que, durante duas semanas, foram questionados aleatoriamente três vezes ao dia, através de uma técnica que os investigadores chamaram “avaliação ecológica momentânea”. Para além de perguntas sobre a multidão e a perceção de inclusão social, os voluntários foram questionados sobre o ambiente natural que os rodeava: “Consegue ver árvores neste momento?”; “Consegue ver plantas neste momento?”; “Consegue ver ou ouvir pássaros neste momento?”; e “Consegue ver água neste momento?”. A partir das respostas, os sentimentos de “solidão momentânea” foram classificados numa escala de cinco pontos.

Ao todo, no período da pesquisa, os autores receberam mais de 16.600 avaliações. As conclusões reportam que os ambientes superlotados aumentaram os sentimentos de solidão em 38%, independentemente da idade, sexo, etnia, nível de educação ou profissão. No entanto, quando as pessoas conseguiam interagir com espaços verdes, ou ouvir pássaros, a sensação de solidão caía uns impressionantes 28%.

Sem programa para o fim de semana? Pegue num livro – em papel, um material natural e renovável, que encaixa na perfeição num retemperador momento de comunhão com natureza – e dirija-se a um parque ou floresta; sente-se debaixo de uma árvore (dê-lhe um abraço primeiro, se quiser), inspire fundo e mergulhe nas páginas. Não só não vai sentir-se só, como é garantido que volta para casa com energia renovada.

“A natureza é tão importante para o nosso bem-estar mental e físico quanto para a capacidade da nossa sociedade de lidar com as mudanças globais, ameaças à saúde e desastres. Precisamos de natureza nas nossas vidas.”, refere a Comissão Europeia na comunicação que acompanha a Estratégia para a Biodiversidade em 2030.

Sabia que…

O crescimento demográfico acentuou a degradação florestal em Portugal, a partir do século XIV. A floresta original foi sendo destruída para a instalação de povoações, explorações agrícolas e pastoreio, e a madeira das diferentes espécies autóctones utilizada como fonte de combustível e de matérias-primas para a construção e a expansão naval. As matas foram também gradualmente substituídas por pastagens, para responder às necessidades da agricultura.

Hoje, calcula-se que, em Portugal continental, reste menos de 1% da antiga floresta original. O que leva a que quase todas os parques florestais e matas tenham sido plantados e semeados, incluindo partes do Bussaco, do Gerês e de Sintra. Deixamos-lhe três exemplos emblemáticos de áreas arborizadas onde pode passear para aliviar o stress ou a solidão das grandes cidades, e que não existiriam se não tivessem sido plantados pelo homem:

Este parque no coração de Lisboa, que ocupa perto de 1/4 da área da cidade, é muito mais recente do que imaginamos. Começou a ser plantado em 1938, numa iniciativa do Eng. Duarte Pacheco, e só no final da década de 70 do século XX começou, verdadeiramente, a parecer-se com uma floresta.

Foi plantada com o objetivo de mitigar os efeitos do assoreamento do rio Mondego, numa altura (finais do séc. XVIII) em que as inundações dos campos em redor eram motivo de preocupação. A plantação das espécies florestais que deram origem a esta mata começou em 1791, ajudando a delimitar um novo leito para o Mondego e a fixar e proteger as suas margens.

A sua origem remonta ao séc. XIII, na tentativa de travar o avanço das areias litorais que invadiam os campos agrícolas, os rios e até os lugares habitados. O processo foi iniciado no tempo de D. Afonso III, mas foi no reinado de D. Diniz que se fizeram as grandes sementeiras com pinheiro-bravo.