A pegada ecológica do digital

2 de Fevereiro 2021

A comunicação digital tornou-se omnipresente e hoje é difícil imaginar o quotidiano sem computadores, smartphones e uma série de pequenos e grandes eletrodomésticos. Contudo, a sua cada vez maior utilização tem uma pegada ecológica considerável e é um fardo pesado para o planeta.

A indústria das telecomunicações é responsável por 2,5% a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo expectável que atinja os 14% em vinte anos (1), por oposição ao 1% de emissões produzidas pela indústria da pasta e do papel e pela atividade de impressão (2).

A isto soma-se o crescimento do consumo de energia para suporte de tecnologias digitais, que atualmente atinge os 9% a cada ano, para o qual contribui a cada vez maior procura por conteúdos digitais, que requer a criação de servidores gigantescos com vista ao armazenamento de dados.

As projeções são alarmantes: estima-se que a parte de emissões de gases com efeito de estufa atribuível à tecnologia digital aumente para 8% até 2025, um valor que compara com a participação atual das emissões dos automóveis (3).

A dificuldade de gestão do lixo eletrónico (que inclui equipamentos elétricos e eletrónicos em fim de vida, desde telemóveis e computadores a frigoríficos e aparelhos de ar condicionado), é outro dos problemas que pesa na pegada carbónica da comunicação digital. De acordo com o “The Global Waste Monitor 2020”, das Nações Unidas, União Internacional das Telecomunicações e Associação Internacional de Lixo Sólido, em 2019 o mundo produziu 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrónico (cerca de 7 quilos per capita), – o equivalente ao peso de 350 navios de cruzeiro da dimensão do Queen Mary II.

Com o consumo global de aparelhos elétricos e eletrónicos a crescer a uma média de 2,5 milhões de toneladas/ano, as previsões apontam para que a produção anual de lixo eletrónico atinja os 74,7 milhões de toneladas em 2030. Uma realidade preocupante, já que, do lixo eletrónico produzido no ano passado, apenas 17,4% foi devidamente recolhido e reciclado, não sendo possível determinar o destino dos restantes 82,6%.

Por contraste, na Europa a taxa de reciclagem de papel atinge os 72%, de acordo com os dados da CEPI – Confederação Europeia da Indústria Papeleira. Um valor muito próximo do máximo teórico de 78%, sendo o papel reciclado uma média de três vezes e meia.

(1) Belkhir L. & Elmeligi A., Journal of Cleaner Production, Assessing ICT global emissions footprint: Trends to 2040 & recommendations, 2018; (2) ASN and Ecofys, 2015; (3) The Shift Project. 2019. Lean ICT: Towards Digital Sobriety.