Quando chegam os meses mais frios do ano, o que acontece às abelhas? O facto de ninguém as ver não quer dizer que estejam a hibernar. Descubra as técnicas que estes insetos polinizadores desenvolveram para sobreviver ao outono e ao inverno.
Há animais que hibernam, depois de terem acumulado energia. Há outros que emigram para paragens mais quentes. Há também bichos que se escondem em buracos. Mas não as abelhas. Estes valorosos insetos polinizadores mantêm-se no mesmo sítio, dentro da sua colmeia, sem, contudo, entrarem em dormência. Unidas em torno da rainha, as obreiras formam uma espécie de aglomerado vivo, o chamado “cacho”. Muito juntas, tornam assim menor a superfície através da qual haverá perdas de calor.
As abelhas que estão na parte exterior do cacho formam uma barreira contra o frio, que protege aquelas que estão nas camadas interiores. Para que todas sobrevivam, vão-se revezando na ocupação deste lugar mais difícil. Quanto mais baixa a temperatura no exterior, mais próximas se encontram as abelhas no interior da colmeia, parecendo formar uma estrutura uniforme. A técnica é semelhante à usada pelos pinguins-imperadores, que se amontoam em grandes grupos para sobreviverem às temperaturas gélidas da Antártida. E, também eles, vão trocando, estrategicamente, de posições.
Mas além dessas trocas, as abelhas não se mantêm estáticas, mesmo quando estão no mesmo lugar: elas fazem vibrar os músculos usados para voar, sem, contudo, baterem as asas. A musculatura contrai-se, de forma pulsante, levando à geração de calor.
Através destas estratégias, a temperatura dentro da colmeia é mantida entre os 33oC e os 36oC. Segundo o Guia Prático da Biologia da Abelha, da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP), o cacho começa a formar-se “quando as temperaturas exteriores descem abaixo dos 18oC. Este cacho “vai-se contraindo à medida que a temperatura baixa, atingindo a sua contração máxima a – 5oC. A temperaturas mais baixas, as obreiras geram mais calor em vez de se contraírem mais no cacho”.
Assim que a temperatura o permite, o cacho desfaz-se temporariamente para que as abelhas possam alimentar-se, circulando livremente dentro da colmeia. Elas podem mesmo sair para procurar pólen, com temperaturas acima dos 12oC, pois o calor que produzem ao voar, garante-lhes a sobrevivência.
Alimento é energia
Durante os meses mais frios, as abelhas consomem o mel armazenado na colmeia, fonte de energia essencial, sobretudo tendo em conta a atividade muscular intensa necessária para a geração de calor.
Como forma de preparação para o inverno, as obreiras armazenam mel e a rainha reduz drasticamente a postura de ovos, o que faz diminuir o tamanho da colónia. No inverno, os zangões (machos) morrem, deixando apenas as castas femininas: as obreiras e a rainha.
As estratégias das abelhas para sobreviverem ao inverno exigem uma avançada organização social e um complexo trabalho de equipa. Na primavera, a colónia está preparada para voltar ao seu importante trabalho de recolha de pólen, essencial para o equilíbrio dos ecossistemas.
As florestas amigas das abelhas
Espécies florestais cuja floração acontece no inverno, como é o caso do eucalipto, são especialmente importantes para as abelhas. Embora, nesta estação, as colónias se mantenham a maior parte do tempo dentro da colmeia, a garantia de poderem encontrar pólen – uma fonte de alimento –, quando este escasseia, pode fazer a diferença se o stock de mel for limitado. Por isso, os apicultores procuram, muitas vezes, instalar as suas colmeias junto de eucaliptais.
É, aliás, por essa razão que a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, detém um acordo de parceria com a FNAP, apoiando a atividade apícola nos seus eucaliptais. A empresa cede, a título gratuito, parcelas que integram o seu património florestal, para que os apicultores da associação possam aí instalar apiários. As abelhas retribuem na primavera e no verão com o seu contributo para a manutenção de ecossistemas ricos e biodiversos, através da polinização.