O problema da “mentalidade descartável”

10 de Dezembro 2019

O plástico já constitui 80% dos resíduos nos oceanos, e o que se encontra nas praias é apenas uma pequena percentagem. No âmbito da Conferência Portuguesa Sobre Lixo Marinho, a APLM promoveu uma ação de limpeza da praia de Albarquel, com o apoio do #MYPLANET.

O que atraiu recentemente a atenção do mundo para o problema dos resíduos nos oceanos foram as imagens da impressionante “Grande Ilha de Lixo do Pacífico”, embora esta já tenha sido descoberta no final do século passado. A verdade é que este depósito flutuante não para de crescer, e se, em 2008, tinha cerca de 680 mil quilómetros quadrados, dez anos depois estima-se que esteja espalhado por 1,6 milhões de quilómetros quadrados. Pior ainda é imaginar que, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (UNEP), apenas 15% do lixo marinho flutua à superfície.

Mas como é que estes resíduos chegam ao mar, se apenas 20% do lixo marinho está relacionado com atividades marítimas? O restante tem origem em terra, devido aos despejos de lixo doméstico e industrial, diretamente ou através dos rios. No cerne do problema, acredita a APLM – Associação Portuguesa do Lixo Marinho (que nasceu em 2013 no meio académico, no seguimento de um trabalho realizado por uma equipa de investigadores do IMAR na Universidade Nova de Lisboa), está a “mentalidade descartável” de consumo, “um fenómeno global recente, pois ainda há poucas gerações embalávamos os produtos em embalagens reutilizáveis ou usando materiais recicláveis – vidro, metal e papel. A necessidade de transportar maior quantidade de produtos para a mesma tara em camiões, fez com que a indústria optasse por embalagens de plástico que são mais leves que as de vidro, trazendo assim uma vantagem económica aos transportadores. Hoje, os aterros sanitários e praias encontram-se cheios de resíduos de embalagens de plástico e produtos dispensáveis que não são valorizados no seu curto ciclo de vida. Os efeitos a curto prazo das nossas ações diárias estão a tornar-se um problema a longo prazo”.

A associação revelou mesmo, na segunda Conferência Portuguesa sobre Lixo Marinho e Microplásticos, que realizou em Setúbal, entre os dias 19 e 21 de setembro, e que contou com o apoio da Navigator e do #MYPLANET, que estima que 80% dos resíduos nos oceanos sejam compostos por plástico, mais 10% do que os últimos números avançados.

Nas palavras da APLM, “o aumento das pressões sobre o meio marinho, paralelamente com o crescimento económico e o aumento da população, deverão continuar a agravar-se, se a sociedade seguir uma abordagem business-as-usual. Há uma necessidade urgente de regular e gerir de forma mais sustentável o meio marinho, de forma a salvaguardá-lo para as gerações futuras”. Razão por que esta conferência juntou de novo “uma comunidade que inclui cada vez mais intervenientes e fortalece os laços entre os vários setores da sociedade, numa ótica de corresponsabilização para a mudança, quer social, quer empresarial, agora enquadrada pela Estratégia Europeia para os Plásticos numa Economia Circular”, refere a associação.

O foco foi colocado em respostas positivas para o problema dos plásticos e para a redução do lixo marinho e o encontro terminou com a realização, no âmbito do Dia Internacional da Limpeza Costeira, que se assinala a 21 de setembro, de uma atividade de limpeza e de monitorização na Praia de Albarquel, em Setúbal. Os dados recolhidos foram adicionados à base de dados de Lixo Marinho na Europa, no site Marine Litter Watch, da Agência Europeia do Ambiente. Porque este é um problema global e sem fronteiras.

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