Alterações climáticas, desde quando?

30 de Agosto 2021

No próximo ano completa-se meio século desde que se começaram a discutir as alterações climáticas. Mas o problema está longe de solucionado, e só o esforço de todos pode, ainda, interromper o ciclo e devolver a esperança ao Planeta e à Humanidade.

As alterações climáticas são uma preocupação quase tão antiga como a revolução industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, em Inglaterra. Desde então, de forma consistente e progressiva, tem-se registado um aumento da temperatura média no Planeta, devido à crescente intensificação dos sistemas de produção, que se basearam na utilização de energias poluentes, que emitem gases de efeito de estufa (GEE), como o dióxido de carbono e o metano.

Além disso, o estilo de vida consumista das últimas décadas levou à devastação de importantes ativos do capital natural terrestre, reduzindo a capacidade da própria natureza mitigar os efeitos poluentes da atividade de uma Humanidade cada vez mais numerosa e exigente.

Depois de inúmeros alertas dos cientistas, sistematicamente ignorados pelos decisores, só em 1988 foi criado o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e, só em 2005, na sequência do Protocolo de Quioto, assinado em 1997 por 192 estados, a comunidade internacional avançou com medidas efetivas para combater o comprovado aquecimento global. Foi instituído nessa altura o Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE), um mecanismo destinado a desincentivar a emissão de GEE, obrigando os responsáveis pelas emissões a pagar mais do que pagariam pela reconversão para sistemas energéticos menos poluentes.

Metas falhadas e renovadas

Quando voltaram a reunir-se, desta vez em Paris, em 2015, para estabelecer objetivos mais apertados para os limites admissíveis de emissão de GEE, vários compromissos nesta matéria tinham sido falhados. Em 2012, só a União Europeia tinha cumprido as metas acordadas em Quioto. E, pouco depois da assinatura, a decisão tomada por Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris, que tinha um cariz voluntário e não vinculativo, foi um rude golpe na luta contra o aquecimento global.

A dimensão da economia dos EUA faz do país um player essencial neste âmbito. Em 2019, enquanto cada europeu emitia 6,7 toneladas de CO2, a média de cada americano atingia 16 toneladas. É, aliás, o índice de emissões per capita que leva a China (7,1 toneladas) e a Índia (1,9 toneladas) a reivindicarem o direito de ainda poderem fazer crescer as emissões na próxima década, tornando ainda mais difícil o entendimento internacional.

A 21 de abril deste ano, a União Europeia estabeleceu como nova meta reduzir as emissões líquidas (isto é, o saldo entre as emissões e as retenções) de GEE em pelo menos 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990, mantendo o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica em 2050. A recomendação do Parlamento Europeu apontava para um mínimo de 60%.

Agora sob presidência de Joe Biden, os EUA retomaram as preocupações ambientais e pretendem cortar 50% nas emissões até 2030, mas tendo como referência o ano de 2005, o que, objetivamente, representa uma menor ambição relativamente à Europa, já de si com metas pouco ambiciosas, na opinião de grande parte dos ambientalistas.

Portugueses disponíveis para aumentar esforço

Alinhando com a maioria dos europeus, os portugueses pretendem que seja aumentado o esforço nacional na redução das emissões. Um inquérito realizado em 12 países pelo instituto YouGov, para a Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), de que a associação ambientalista portuguesa Zero faz parte, indica que quase três em cada quatro portugueses não se importaria de pagar um pouco mais pelos combustíveis ou pela energia para aquecimento, se isso contribuir para o esforço coletivo de reduzir as emissões.

Aliás, em Portugal, existem casos excecionais de comprometimento com a mitigação dos efeitos das alterações climáticas. A The Navigator Company, por exemplo, foi a primeira empresa portuguesa, e uma das primeiras no mundo, a assumir o compromisso de, até 2035, tornar todos os seus complexos industriais neutros em emissões de carbono. O anúncio, feito em outubro de 2019, antecipa em 15 anos a meta assumida pela União Europeia e por Portugal para a neutralidade carbónica, obrigando a investimentos de mais de 150 milhões de euros em energias renováveis, novas tecnologias e, também, plantação de floresta. E os frutos já se começam a colher: só a recente entrada em funcionamento de uma nova caldeira de biomassa na fábrica da Figueira da Foz permitirá à Navigator, no final deste ano, emitir menos 32% de CO2.