Apagar as luzes pelas aves migratórias

13 de Maio 2022

“Noites escuras, migrações seguras” é o mote deste Dia Mundial das Aves Migratórias 2022. Em alguns países, Portugal incluído, já há medidas no sentido de reduzir a iluminação nas cidades, sobretudo nas épocas mais críticas para os voos destas espécies.

As aves estão entre as vítimas do excesso de luz artificial no planeta, que continua a aumentar a um ritmo de 2% a cada ano. As que migram são especialmente vulneráveis à chamada poluição luminosa, que provoca a sua desorientação, afastando-as das rotas durante os voos noturnos e levando-as, muitas vezes, a colidir com edifícios.

As luzes artificiais também podem desorientar as aves no sentido de as levar a iniciar as suas migrações mais cedo ou mais tarde do que seria natural. O problema é que, nestes casos, perdem as condições climatéricas ideais para nidificar e recolher alimentos, o que, indiretamente, condiciona a reprodução da espécie.

Apagão geral pelas cagarras

Portugal é uma região privilegiada para observação de aves migratórias, já que muitas espécies escolhem o nosso território para nidificar. Chegam na primavera, vindas da áfrica subsariana, e iniciam o longo voo de regresso no outono.

As cagarras (Calonectris borealis) são um exemplo de como a luz artificial pode ser prejudicial para as aves migratórias. Nos Açores, onde existe uma grande população desta espécie, o problema da poluição luminosa já foi alvo de medidas.

No outono, quando as aves jovens deixam os ninhos e começam a fazer-se ao mar, vão durante a noite, para evitar a ameaça de predadores. Acabam muitas vezes por ficar desorientadas com a iluminação artificial e caem ou colidem com edifícios, ficando à mercê dos predadores que procuravam evitar. A Câmara do Corvo e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves promovem desde 2020 um apagão geral entre as 21h00 e as 4h00, durante a semana mais crítica para os voos noturnos das cagarras. Num período mais alargado, antes e depois desta semana, a iluminação pública fica apagada entre as 00h00 e as 06h00. Com o apoio da população da ilha, este é um exemplo de como é possível tomar medidas para a diminuição da poluição luminosa e proteção das aves migratórias.

As tímidas cegonhas-pretas

Outro exemplo de ave migratória que elege o nosso país para nidificar é a cegonha-preta (Ciconia nigra). Chega na primavera e fica até ao fim do verão, preferindo zonas com pouca atividade humana, e, portanto, pouco iluminadas, próximas de rios, ribeiros, açudes e charcas. Encontramo-la ao longo da faixa interior do país, de Trás-os-Montes ao Baixo Alentejo, mas vê-la não é fácil, pois é muito tímida.

aves migratórias

Nas propriedades florestais da The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, todos os anos há cegonhas-pretas a passar o verão. Nidificam numa zona escarpada no Alto Alentejo, onde beneficiam de medidas de conservação, como faixas de proteção dos cursos de água e áreas de proteção em redor dos ninhos. A Navigator promove também o desfasamento das suas atividades de exploração florestal relativamente à época de nidificação.

O Dia Mundial das Aves Migratórias desdobra-se em dois, sendo celebrado nos segundos sábados dos meses de maio e de outubro. Marca assim as épocas em que as aves realizam as suas longas, épicas e ainda tão misteriosas viagens.