Aridez: o avanço de uma ameaça global

13 de Janeiro 2025

O fenómeno não é novo, mas um relatório recente das Nações Unidas fez soar ainda mais os alarmes. O avanço da aridez, que já cobre mais de 40% das terras do mundo, está a redefinir a paisagem e a vida no Planeta.

4,3 milhões de km² transformaram-se, nas últimas três décadas, em zonas áridas: é uma área superior à que ocupam todos os 27 países da União Europeia. O que significa que a aridez cobre, hoje, 40,6% dos solos da Terra (excluindo a Antártida). Os números são do último relatório da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD) – “A ameaça global das terras secas: tendências regionais e globais de aridez e projeções futuras” –, apresentado na 16.ª Conferência da UNCCD (COP16) em Riade, na Arábia Saudita, no passado mês de dezembro.

De acordo com o documento, 77,6% dos solos da superfície terrestre registaram condições mais secas entre 1990 e 2020 do que nos 30 anos imediatamente anteriores. Estas conclusões constituem um diagnóstico alarmante. “A crescente aridez redefinirá a paisagem global, desafiando os modos de vida tradicionais e forçando as sociedades a reimaginar a sua relação com a terra e com a água”, alerta, em comunicado da UNCCD, Andrea Toreti, cientista sénior da Comissão Europeia e um dos autores do relatório.

Mas, afinal, o que significa aridez e o que a diferencia da seca? De uma forma genérica, pode dizer-se que a aridez é o estado crónico da falta de água, quer proveniente da precipitação, quer em circulação no solo, produzindo efeitos negativos no crescimento da vegetação. Ou seja, implica um longo período de secas, que culmina numa transformação irremediável dos solos. Já a seca, na mesma ótica, é a fase aguda da “doença”, não sendo ainda considerada um estado permanente. Representa períodos temporários de pouca precipitação, mas coexiste com a capacidade de recuperação por parte dos solos.

Causas e efeitos da aridez

A escalada da aridez tem a sua origem no aquecimento global, provocado pelas altas emissões de gases com efeito de estufa provenientes da atividade humana. Nas décadas em estudo, passou-se de 37,5% (no período 1961-1990) de massa terrestre global classificada como árida, para 40,6% (no período 1991-2020).

A falta de recursos hídricos, a infertilidade dos solos e o colapso dos ecossistemas resultam em terras inabitáveis, levando à desertificação e a migrações forçadas das populações, bem como à extinção de um sem número de espécies que se confronta com a falta de alimento. Consequências negativas que se estendem à economia mundial, com perdas severas nas produções agrícolas, e à saúde humana, a nível global.

O relatório da UNCCD revela que o número de pessoas que vivem em zonas consideradas áridas duplicou nas últimas três décadas, tendo atingido os 2,3 mil milhões, ou seja mais de um quarto da população mundial. A Europa – com principal enfoque no Mediterrâneo e no sul do continente –, o Brasil, o oeste dos Estados Unidos, a África Central e o leste asiático são as áreas que merecem uma maior preocupação.

O que fazer?

A UNCCD faz uma série de recomendações, dirigidas aos principais líderes mundiais, no sentido de mitigar a aridez que está a instalar-se no Planeta. São elas:

  • A integração de métricas de aridez em sistemas de monitorização de seca;
  • A promoção de sistemas sustentáveis de uso da terra, que passam por abordagens inovadoras e holísticas para a gestão dos solos;
  • O investimento em eficiência hídrica;
  • A promoção de programas educacionais, de adaptação e capacitação para tornar mais resilientes as comunidades vulneráveis;
  • E uma cooperação internacional que garanta respostas unificadas à crise.

As medidas têm carácter de urgência. Segundo o relatório, 20% das terras globais encontram-se em risco de transformações abruptas e irremediáveis nos ecossistemas, até 2100, devido ao avanço da aridez.

A aridez implica um longo período de secas que culmina numa transformação irremediável dos solos. O seu avanço tem origem no aquecimento global, provocado pelas altas emissões de gases com efeito de estufa provenientes da atividade humana.