As árvores também viajam

15 de Julho 2020

Portugal deu novos mundos ao mundo. E, ao fazê-lo, deu também novas árvores ao país.

As árvores são seres viajantes, que se fixam em novos territórios. Em Portugal, na história mais recente, alguma flora não autóctone foi introduzida na época da ocupação romana, mas foi com os Descobrimentos que espécies oriundas dos quatro cantos do mundo entraram com facilidade no país, estabelecendo-se devido à amenidade do clima e à diversidade dos solos. Há centenas de espécies alóctones* espalhadas pelo país, algumas tão comuns que nem nos lembramos que são “estrangeiras”. E outras que chegaram há tanto tempo que já ganharam “nacionalidade”. Vamos conhecer alguns exemplos.

*Termo do grego allos (outros) e khton (terra), que significa aquilo que não tem origem no sítio onde existe. Designa espécies não nativas, vulgarmente conhecidas como espécies exóticas.

Apesar de a oliveira mais antiga de Portugal (em Mouchão, Abrantes) ter 3353 anos e o azeite fazer parte integrante da cultura nacional, a verdade é que a Olea europaea é nativa da costa da Síria e Israel, Norte do Iraque, Irão e Palestina. A sua dispersão pela Europa mediterrânica ficou a dever-se à civilização grega, em cuja mitologia a deusa Atenea ofereceu aos deuses uma oliveira, de cujos frutos se poderia retirar um líquido para alimentar, tratar feridas, limpar o corpo ou iluminar a noite. Em Portugal, há referências a oliveiras no tempo dos Visigodos, no séc. VII, e existe uma variedade autóctone: o zambujeiro.

A espécie Juglans regia (na foto) tem sido cultivada em toda a Europa central desde tempos imemoriais e chegou-nos vinda da zona entre a Ásia Central e o Oeste da China. É cultivada e apreciada pelo seu fruto, a noz, muito utilizado em Portugal, nomeadamente em doçaria. Já a Juglans nigra, ou nogueira-preta, é procedente dos Estados Unidos da América e plantada em Portugal essencialmente pela madeira, considerada de excelente qualidade e usada na produção de móveis e folheados.

É tão comum que quase dispensa descrições. A laranja doce (Citrus sinensis) é mesmo conhecida por laranja portuguesa, por terem sido os navegadores nacionais a trazerem-na do Sudoeste Asiático Tropical e Subtropical para a Europa, no século XV, e a levá-la depois para as Américas. Já a laranja amarga (Citrus aurantium), foi a primeira a ser conhecida pelos europeus, trazida da Ásia pelos comerciantes árabes para a Península Ibérica.

No nosso país foram introduzidas seis espécies diferentes desta resinosa, existindo muitos exemplares de grande porte (podem atingir 60 metros de altura) em parques e jardins, sobretudo a norte do rio Tejo. São originárias do Hemisfério Sul e foram trazidas principalmente da América do Sul e da Austrália. A mais difundida no país é a Araucaria heterophylla, muito resistente ao vento e à salinidade, que vulgarmente se encontra junto à costa. É conhecida como pinheiro-de-norfolk e originária da ilha homónima, no Oceano Pacífico.

Graças à sua copa ampla e sombra aprazível no verão, esta árvore é utilizada na arborização de estradas, arruamentos, parques e jardins. Em Portugal, a espécie mais cultivada designa-se Platanus hibrida e é um cruzamento entre a Platanus occidentalis, da costa atlântica dos Estados Unidos, e a Platanus orientalis, nativa da Europa oriental e do sudoeste asiático, que se crê que tenha sido introduzida nos finais do século XVII em Coimbra.

Proveniente das montanhas semiáridas do Médio Oriente, Turquia, Cáucaso e Ilhas Gregas, o cipreste-comum (Cupressus sempervirens) é, em Portugal, conhecido também como cipreste dos cemitérios, por ser muito plantada nesses locais. No entanto, no passado, a sua presença foi sinónimo de nobreza e, no norte do país, encontramos ciprestes junto aos solares. Nos últimos anos já começou a ser plantado em espaços públicos e a ser usado como cortina de abrigo contra o vento de culturas agrícolas e pomares.

Em Portugal é muito usada em arborização em meio urbano, sendo uma espécie emblemática da paisagem do centro de Lisboa, graças às suas exuberantes flores lilases. Com origem na América do Sul, chegou a Portugal por opção do Jardim Botânico da Ajuda, no início do século XIX. É uma das poucas árvores a ter o mesmo nome comum em quase todos os idiomas do mundo. Cientificamente, é conhecida como Jacaranda mimosifolia.

A espécie Quercus rubra, com origem na América do Norte, encontra-se, em Portugal, sobretudo no Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beiras e Douro Litoral. Atinge o máximo de produção de bolota (muito apreciada pelos animais) a partir dos 50 anos, obtendo-se 90 quilos de semente limpa de 100 quilos de semente. A madeira utiliza-se em estruturas e carpintaria, devido à robustez e finura, mobiliário rústico, pisos, carroçaria de transporte, construção naval e travessas de caminho-de-ferro. Tem sido plantado sobretudo pelo seu rápido crescimento, quando comparado com os carvalhos nativos.

Esta é uma espécie mediterrânica, mas não autóctone de Portugal, que se distribui pelas zonas calcárias do país, nomeadamente as serras jurássicas da Arrábida, Montejunto, Candeeiros e Aire, e ainda o distrito de Lisboa, Santarém e, sobretudo, o Algarve. Os pinhões do Pinus halepensis Miller são acinzentados, e por cada 100 quilos de pinha fresca podem obter-se cerca de três quilos de semente limpa. Também é uma espécie boa para produção de resina, mas a madeira é pouco interessante do ponto de vista de produção lenhosa.

Muito referido na literatura e na poesia, desde o tempo de Shakespeare, por causa do brilho das suas folhas, o Salix babylonica, ou chorão, é oriundo do Oriente, provavelmente da China, tendo sido introduzido na Europa há cerca de 200 anos. Difundiu-se rapidamente em Portugal, por ser uma árvore de copa muito ornamental, com os seus ramos compridos e pendentes. É uma das primeiras árvores a ter folhas novas na primavera e uma das últimas a perder as folhas no outono.

Encontra-se sobretudo na faixa litoral a norte da Figueira da Foz e, mais a sul, nas Serras de Sintra, Monchique e Montejunto, e ao longo da faixa costeira ocidental. É sensível às geadas, mas resiste bem às temperaturas elevadas e a ventos marítimos fortes. O Pinus radiata, originário da Califórnia (EUA), dá um pinhão negro rugoso com rendimento baixo. Mas a sua madeira pouco nodosa é usada em carpintarias de interior, contraplacados, paletes, aglomerados, embalagens serradas e desenroladas, e mobiliário. A espécie tem ainda interesse ornamental e para a constituição de cortinas de abrigo em zonas com fortes ventos marítimos.

Com origem na Península Balcânica, o valor ornamental da Tilia platyphylios torna-a frequente nas ruas e, devido à sua resistência à poluição atmosférica, às podas e ao trânsito, é adequada às cidades. A madeira macia e uniforme é ideal para a escultura e a marcenaria. A maior tília existente em Portugal, em Paredes, tem 22 metros de altura e 24 de diâmetro de copa, e a colheita da flor ocupa 20 homens durante 3 dias.

Originária da Córsega, Calábria e Sicília, a Pinus nigra é uma árvore com uma longevidade de 300 a 500 anos. Como resiste bem aos ventos e às geadas primaveris, é com frequência utilizada na arborização das zonas mais altas e ventosas das nossas serras. Em Portugal, foi introduzida nas serras do Gerês, Marão, Montezinho, Nogueira, Cabreira, Estrela, Padrela, Barroso e Serra da Lousã. Em termos económicos, a sua frutificação é muito irregular, abundante a cada três ou quatro anos e escassa nos restantes, e a madeira pode colocar problemas de deformação.

Há registos fósseis do género na Europa, no entanto, este extinguiu-se na região durante a última Idade do Gelo. Os tulipeiros (Liriodendron tulipífera) – cujo nome deriva das flores, semelhantes a tulipas – voltaram a ser reintroduzidos no século XVII, vindos da América do Norte, onde são uma das árvores de maior dimensão, podendo atingir os 50 metros de altura nos bosques. Em Portugal, um exemplar com 280 anos, existente no Museu dos Biscainhos de Braga, tem a classificação de árvore de interesse público.

Originária da América do Norte e Central, o Liquidambar styraciflua é uma árvore ornamental, muito utilizada em Portugal para adornar ruas e parques. O nome deve-se à seiva da planta, que é de cor âmbar, e que derrama em abundância quando os ramos são cortados. As folhas são em forma de estrela de 5 a 7 pontas, brilhantes, aromáticas e com margens dentadas. Normalmente verde-escuras, no outono adquirem diferentes tonalidades de verde claro, amarelo, laranja e vermelho, muitas vezes em simultâneo.

A saborosa fruta da Citrus reticulata tem origem na China, onde era uma espécie silvestre. Chegou à Europa no início do século XIX e o nome dado em Portugal evoca a “laranja de Tânger”.

Com origem nos Balcãs, sudoeste da Ásia e norte de África, a amendoeira (Prunus dulcis) é uma árvore pequena, com entre 8 e 10 metros, cultivada pelo fruto. Quando em flor, nos meses de março e abril, é um deleite para a vista. Na Península Ibérica é cultivada em quase todo o território, exceto nas zonas frias e de clima mais húmido. As amêndoas são utilizadas para fins culinários e terapêuticos, delas se extraindo óleos e essências com propriedades medicinais e muito utilizados na indústria cosmética.

Com muitas e vistosas flores, a Cercis siliquastrum é muito usada como árvore ornamental. Originária do sul da Europa e do sudoeste asiático, é conhecida entre nós desde o século XVI. O seu nome vulgar, árvore-de-Judas, tanto se pode dever ao mito de que Judas Iscariotes se enforcou numa árvore desta espécie, como à tradução alterada do nome comum francês, “arbre de Judee”, que significa árvore-da-Judeia.

Originários da Bacia do Mediterrâneo, os Himalaias e a Ásia, todos os cedros existentes no nosso país foram introduzidos, existindo sobretudo três espécies: o Cedro-do-Himalaia (Cedrus deodara), o Cedro-do-Líbano (Cedrus libani) e o Cedro-do-Atlas (Cedrus atlantica). Apesar da madeira destas resinosas ser duradoura, aromática e muito valiosa, principalmente a da espécie Cedrus libani, em Portugal só têm sido utilizadas como árvores ornamentais.