Há 19 trilhos para percorrer a pé no Parque Nacional da Peneda-Gerês, um ex-libris da conservação da biodiversidade.
Duzentos quilómetros podem representar duas horas de aborrecimento a viajar de carro numa autoestrada desinteressante, ou muitos dias de apaixonante viagem ao encontro da natureza, percorrendo a rede de trilhos pedestres que cobre o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).
De Castro Laboreiro (concelho de Melgaço) a Tourém (Montalegre), 19 trilhos pensados para satisfazer interesses e níveis de exigência diversificados rasgam os 70 mil hectares que, há 50 anos, foram agregados para formar a nossa primeira área protegida e, até hoje, o único parque nacional de Portugal.
Neste território, que equivale a 70 parques como o de Monsanto (Lisboa), 17 cidades como o Porto, ou a uma ilha como a Madeira, os trilhos pedestres que perpetuam o trajeto do gado ou dos contrabandistas são aqueles que exigem melhor condição física e que podem ocupar um dia inteiro. Mas há alternativas mais curtas e suaves, como o Trilho das Aves (em Tourém, onde fica o Centro Interpretativo da Avifauna), quase sempre plano e onde apenas as paragens para observar as aves fazem estender no tempo este percurso de 1,5 quilómetros. Tanto num caso como noutro, andar a pé é a melhor forma de percorrer bosques de carvalho alvarinho, atravessar pontes antigas, visitar moinhos dispersos nas ribeiras ou cruzar-se com garranos.
A história humana no parque
Muito mais do que os inúmeros miradouros para apreciar a paisagem, o PNPG é, por exemplo, uma das derradeiras oportunidades em Portugal para contactar com os resquícios de uma atividade humana relacionada com a pastorícia. Durante séculos, a transumância levou comunidades serranas a acompanharem a migração sazonal do gado. São cada vez menos, mas ainda há quem faça este percurso em Castro Laboreiro, habitando as “brandas” no planalto durante o verão e vivendo nas “inverneiras” do vale, ao longo do rio Laboreiro, no resto do ano.
A marca da presença das pessoas é, aliás, um dos grandes atrativos do PNPG, incontornável nos agregados populacionais das 22 freguesias, pertencentes a cinco municípios (Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre), que se estendem do planalto de Castro Laboreiro ao da Mourela, abrangendo as serras da Peneda, do Soajo, Amarela e do Gerês.
Habitada desde a pré-História – como comprovam as gravuras rupestres de Lindoso ou a maior necrópole megalítica da Península Ibérica, em Castro Laboreiro –, esta região do noroeste português reflete bem a relação do Homem com a natureza ao longo dos tempos.
Cinco portas, cinco temas
A oeste, a Porta do Mezio (Arcos de Valdevez) apoia-se no Parque da Biodiversidade e nas matas do Mezio e do Ramiscal para se concentrar na conservação da natureza e da biodiversidade. Poucos são os que, aqui chegados, prescindem de uma ida ao Baloiço de Mezio, na freguesia de Cabana Maior (a 15 minutos de carro de Soajo). A sete metros de altura, a vista de 360 graus sobre a serra do Soajo ganha outro fôlego.
Mais a norte, a Porta de Lamas de Mouro (Melgaço) aborda o ordenamento do território, abrindo caminho às cascatas e lagoas que abundam nas imediações (e por quase todo o parque) ou ao centro histórico de Castro Laboreiro, a localidade que dá nome a uma raça de cães e domina um planalto propício à prática de campismo ou desportos na natureza, como o arvorismo, em Lamas de Mouro.
A sul, na Porta do Campo do Gerês (Terras de Bouro), história e civilizações são o mote para o Museu da Geira – via romana do século I, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga, em Espanha) –, o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna (aldeia submersa por uma barragem), o Santuário de São Bento da Porta Aberta ou as termas do Gerês, com o seu parque de sequoias e carvalhos centenários.
A leste, o tema é a paisagem, na Porta de Montalegre, integrada no Ecomuseu de Barroso, bem próximo dos fojos (armadilhas) do lobo de Fafião e do seu miradouro. A ponte suspensa, com vista privilegiada para os vales dos rios Cabril e Cávado, tornou-se visita tão obrigatória como o Mosteiro de Santa Maria das Júnias, isolado no vale, em Pitões. O Poço Verde e a Cascata de Pinçães são polos de atração no verão.
A meio do parque em forma de U, bem próxima da fronteira com Espanha, a Porta de Lindoso (Ponte da Barca), integrada num castelo medieval, é dedicada á água e à geologia, por força das gravuras rupestres e locais de interesse geológico, mas onde também se encontram conjuntos numerosos de espigueiros (construções centenárias, muito características, destinadas à guarda de cereais).
Antes de partir, descubra os trilhos, com o percurso no mapa e outras informações úteis para planear a sua caminhada.