O tigre-siberiano é o maior tigre do mundo, mas corre o risco de desaparecer para sempre.
O tigre-siberiano, ou tigre de Amur, como também é conhecido, é mais um grande felino à beira da extinção.
Quando a população de uma espécie cai, a sua diversidade genética também diminui. Foi o que aconteceu com o tigre-siberiano, que, na década de 40 do século passado, muito devido à caça ilegal, viu a sua população drasticamente reduzida. Apesar dos posteriores esforços de conservação, o seu reservatório genético nunca recuperou.
Um estudo de 2011 referia que a população efetiva de tigres-siberianos selvagens, em todo o mundo, era de apenas 14 indivíduos. “Na realidade, vivem em estado selvagem cerca de 500 tigres de Amur, mas a população efetiva é uma medida da diversidade genética do maior felino do mundo. Muito baixa diversidade significa que qualquer vulnerabilidade a doenças ou distúrbios genéticos raros é suscetível de ser passada para a próxima geração. Assim, estes resultados pintam um quadro sombrio para as hipóteses de sobrevivência deste tigre”, relatava a BBC a este propósito.
Ou seja, uma população de animais geneticamente mais diversa, tem uma oportunidade maior de sobrevivência, uma vez que é mais provável, por exemplo, que contenha resistência a uma variedade de doenças, e que não sucumba a distúrbios genéticos raros, que podem ser “cancelados” por genes saudáveis.
No entanto, os estudos levados a cabo, que procuraram determinados “marcadores” no sangue dos tigres testados – pontos no código de ADN que mostram se os animais tinham pais geneticamente muito diferentes um do outro –, revelaram provas de um estrangulamento genético na história recente dos tigres, em que a variedade dos genes transmitidos foi drasticamente reduzida.
Embora a diversidade genética dos tigres-siberianos selvagens seja criticamente baixa, os níveis populacionais que temos agora (cerca de 500 indivíduos em estado selvagem e outros tantos em cativeiro), são uma história de sucesso dos esforços de conservação.
E a esperança, apesar de tudo, não termina por aqui, com a história da Cinderela, uma cria órfã criada em cativeiro, a dar mostras de que, quando o permitimos, a natureza encontra um caminho.
Cinderela volta à floresta e encontra um príncipe
Tudo começou no início de 2012, quando dois caçadores encontraram uma cria de tigre siberiano na floresta boreal do extremo oriente da Rússia, que teria, provavelmente, perdido a mãe às mãos de caçadores furtivos. Esfomeada, letárgica e com uma queimadura por frio na cauda, foi encaminhada para o Centro de Reabilitação e Reintrodução de Tigres e Outros Animais Raros da Rússia, que tem como objetivo ensinar filhotes órfãos a caçar, preservando o seu medo natural dos humanos.
Ali, deram-lhe o nome de “Zolushka”, o equivalente russo de “Cinderela”. Pouco mais de um ano depois do resgate, Zolushka foi considerada apta para regressar ao seu ambiente natural, sendo libertada na reserva natural de Bastak, um antigo habitat de tigres-siberianos que os cientistas esperavam que ela pudesse ajudar a recolonizar.
E, como em qualquer bom conto, a história desta Cinderela não está imune a dramas e reviravoltas: após alguns meses, a coleira de GPS deixou de funcionar, deixando os cientistas sem qualquer pista sobre o seu paradeiro e bem-estar. Os guardas da reserva e pessoal ligado ao centro de reabilitação procuraram na área até encontrarem pegadas de tigre, e instalaram câmaras na zona para confirmar se pertenciam à sua Cinderela. Confirmou-se que sim, com as câmaras a registarem várias imagens de Zolushka, facilmente reconhecível não apenas pelas suas listas únicas, como todos os tigres, mas também pelo tamanho encurtado da sua cauda, que teve de ser amputada no centro de reabilitação devido à queimadura por gelo.
Assim que voltaram a conseguir rastrear Zolushka, os cientistas fizeram outra importante descoberta: um segundo conjunto de pegadas, maiores, ao seu lado, que vieram a confirmar pertencer a um macho adulto, saudável.
Encontrado o seu príncipe, Cinderela acasalou, e, em 2015, teve duas crias, tornando-se no primeiro tigre siberiano reabilitado a dar à luz na natureza, e aumentando a esperança de um final feliz para a espécie.