O lobo do nosso imaginário

3 de Dezembro 2021

O lobo ocupa um lugar especial no nosso imaginário. Talvez nos identifiquemos tanto com ele por ser da família dos cães. Talvez o recordemos por alimentar lendas, histórias e contos de fadas. Ou talvez nos revejamos na sua organização social, muito ao jeito de “família alargada”, na qual todos se protegem e se cuidam.

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é assim apelidado por ser uma espécie endémica da Península Ibérica. Distingue-se do seu congénere europeu (Canis lupus) por ser mais pequeno, por ter uma pelagem menos cinzenta e mais amarelo-acastanhada, e por possuir listas negras na parte anterior das patas dianteiras.

É um predador de topo, que se alimenta, preferencialmente, de ungulados selvagens, como o corço, o javali e o veado. Contudo, em Portugal, com o desaparecimento desta vida mais selvagem, as espécies domésticas tornaram-se a base da sua subsistência. É por isso que, nas zonas com menos presas selvagens, os ataques a rebanhos continuam a acontecer. E é também por isso que, apesar de ser a única espécie da fauna portuguesa alvo de uma lei que interdita o seu abate e captura, bem como a destruição do seu habitat, continua a ser perseguido.

Outrora comum em todo o território nacional, ocupa hoje apenas 20% da sua área de distribuição original. Encontra-se nas regiões montanhosas da metade norte do país, com duas subpopulações separadas pelo rio Douro. A norte do rio, existe na quase totalidade dos distritos de Bragança e de Vila Real, e em parte dos distritos do Porto, Viana do Castelo e Braga; a sul, encontra-se em parte dos distritos de Aveiro, de Viseu e da Guarda.

Estrutura social complexa
O lobo organiza-se socialmente em alcateias, que variam, grosso modo, entre dois e dez indivíduos, dependendo da altura do ano e do suprimento de comida da área. São animais extremamente sociais e leais ao grupo. As alcateias têm, geralmente, uma hierarquia específica, na qual todos sabem onde se inserem e qual é o seu papel. São unidades sociais complexas, que constituem famílias muito unidas, com indivíduos que se protegem mutuamente, trabalham juntos e ensinam os filhos a caçar. Comunicam entre si através de vocalizações, que tanto servem para partilhar a localização como para alertar de algum perigo.

Não é raro que acasalem para a vida, e há, normalmente, um par líder da alcateia. Ocasionalmente, acolhem um ou outro lobo solitário que encontram pelo caminho no seio da família.

Em Mafra, o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI) acolhe lobos que já não têm condições para viver em liberdade, e está vocacionado para a sensibilização. É possível apadrinhar um lobo e ajudar este projeto de conservação desta espécie em perigo de extinção.