O voo da águia

12 de Julho 2021

De ventre branco e asas escuras, a águia-de-bonelli é uma ave de rapina de grande dimensão, que, em Portugal, é considerada espécie “em perigo”. Protegê-la é um dever de todos.

De nome científico Aquila fasciata, a águia-de-bonelli, também conhecida como águia-perdigueira, está presente em Portugal durante todo o ano e encontramo-la, essencialmente, em dois tipos de habitats: vales íngremes com fragas, a norte, e zonas bem florestadas, no Alentejo e Algarve. No primeiro caso nidifica em escarpas, e no segundo em árvores de grande porte.

Apesar da dimensão – a envergadura das asas pode chegar aos 1,63 metros –, não é fácil avistar a águia-de-bonelli, não só pela sua raridade, mas também pelos seus hábitos discretos e a inacessibilidade de muitos dos locais onde habita.

Caçadora exímia – os casais caçam muitas vezes em conjunto –, alimenta-se sobretudo de perdizes, pombos e coelhos, mas tem a capacidade de adaptar a sua dieta às presas mais abundantes.

De acordo com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), as águias-de-bonelli no nosso país têm um comportamento diferente das restantes populações europeias: a maioria (cerca de 70% dos casais) faz o ninho em árvores. Isto acontece maioritariamente no sul do país e tem contribuído para a expansão da espécie, uma vez que deixa de estar limitada a zonas de rochedos.

Ainda assim, a população portuguesa de águia-perdigueira está classificada como “em perigo” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Espécie extremamente sensível à presença humana em redor dos ninhos, a perturbação durante a época de reprodução (entre dezembro e junho) é uma das principais ameaças.

Gestão florestal responsável

A predileção por árvores de grande porte leva a que a águia-de-bonelli nidifique em várias propriedades da The Navigator Company do sudoeste alentejano e Algarve. Dado o seu estatuto, tem tido um acompanhamento por parte da empresa desde 2006.

No âmbito do projeto LIFE “Conservação de Populações Arborícolas de águia-de-bonelli em Portugal”, a Navigator definiu, em conjunto com o CEAI – Centro de Estudos da Avifauna Ibérica, um plano de conservação que define zonas tampão em redor dos ninhos, e identificou o período durante o qual estão condicionadas algumas atividades florestais nesses locais.

“Tentamos compatibilizar a nossa gestão com a época reprodutiva da águia-de-bonelli. Monitorizamos anualmente os ninhos e condicionamos atividades impactantes, nomeadamente o corte ou plantação de árvores, entre dezembro e maio”, explica Nuno Rico, responsável pela conservação da biodiversidade na Navigator.

Existem zonas tampão em 32 unidades da Companhia, correspondendo a 16 territórios de águia-de-Bonelli, ou seja, 16 casais. A par, existem quatro ninhos, ou locais de nidificação estáveis, dentro de propriedades, em redor dos quais foram constituídas áreas de proteção entre os 3 e os 4,5 hectares, denominadas “áreas de alto valor de conservação”.

Há ainda a preocupação de criar alternativas para nidificação, com a criação ou manutenção de pequenos bosques de grandes árvores junto aos ninhos já existentes e com a construção de ninhos artificiais. “Os ninhos são feitos em árvores que por vezes secam ou caem e é bom ter alternativas”, explica Nuno Rico. “A população tem-se mantido estável, e sempre que há sucesso reprodutivo temos a esperança que os juvenis vão futuramente nidificar em novos locais”, congratula-se o responsável.

Entre dezembro e maio, a Navigator condiciona atividades impactantes em zonas em redor dos ninhos das águias-de-bonelli, de forma a não interferir com a sua época reprodutiva.