Porque aprendemos melhor em papel?

2 de Junho 2020

Folhear um livro é um ato único de prazer. O papel tem impacto visual, cheiro, som e textura, mas influencia-nos de uma forma que vai muito além da afetividade e dos sentidos, assumindo-se como fator importante nos terrenos da aprendizagem e do conhecimento.

Inúmeros estudos realizados ao longo dos últimos anos concluíram que ler em papel, por oposição à leitura digital, promove o pensamento abstrato, a concentração e a compreensão, ao mesmo tempo que reivindica um menor cansaço ocular. A neurociência também comprovou uma clara ligação entre o movimento do braço – especialmente a escrever e desenhar – e o processo neurológico de aprendizagem. E na psicologia percebeu-se que a escrita à mão potencia a aquisição de conhecimento e a performance conceptual, quando comparada com o teclar no computador. Por todos os benefícios que lhe estão associados e todas as emoções que nos desperta, o papel tem garantido o seu lugar no futuro, em plena coexistência e complementaridade com o digital e as novas tecnologias.

Compreensão e perceção
Uma meta-análise divulgada pela Universidade de Valência, com uma amostra de 170 mil participantes de 19 países dos cinco continentes, mostrou que o papel tem uma clara vantagem sobre o digital na compreensão da leitura, ainda maior quando se tem menos tempo para ler e/ou os textos são de cariz informativo.

Envolvimento e memória
Uma investigação internacional desenvolvida pela Universidade Carnegie Mellon no Qatar, em 2017, com alunos que usaram óculos de rastreamento ocular, concluiu que o uso do papel potencia o envolvimento e a memória, mais do que o digital.

Concentração e foco
O Academic Reading Format International Study (ARFIS, 2016), com um painel de 10 mil estudantes de 19 países, revelou que 82% dos alunos se concentram melhor na matéria e que 72% se lembram melhor desta quando a leem em papel, num claro contributo deste suporte para o sucesso escolar.

Raciocínio
Estudantes que leram um texto literário em papel foram mais capazes de fazer a reconstituição da ordem cronológica dos eventos da história, em comparação com os que leram em dispositivo digital, num estudo desenvolvido na Universidade de Marselha.

Imaginação e pensamento
Na Universidade de Indiana (EUA) constatou-se que a ativação/envolvimento do cérebro é maior nas crianças quando estas escrevem à mão num papel, por comparação com a escrita em teclado, o que torna a escrita em papel melhor para a saúde do cérebro. Já na Waldorf School of the Peninsula, na Califórnia (EUA), onde estudam os filhos dos executivos de Silicon Valley, os dispositivos digitais estão banidos nas salas de aula, substituídos pelo lápis, papel e materiais artesanais no estímulo da imaginação e habilidade dos alunos.

Competências do futuro
O papel está ligado às competências do mercado de trabalho no futuro, e não só pelo facto de ser um suporte ecológico, com origem em matérias-primas renováveis. Um estudo da Quorcica, sobre o uso de papel de escritório num universo de 575 empresas, apurou que 77% dos jovens trabalhadores europeus (entre os 18 e os 34 anos) acredita que o papel será muito importante dentro da sua organização em 2025 (e 74% já o consideram importante hoje).

A ciência provou que a utilização de papel, tanto para leitura, como para escrita, é mais eficaz no desenvolvimento das capacidades cognitivas, sobretudo entre os mais jovens.