Valorizar a natureza

27 de Agosto 2020

Se já leu alguma coisa sobre a nova Estratégia Europeia Para a Biodiversidade (se não conhece, pode fazê-lo aqui), talvez tenha ficado surpreendido como os especialistas conseguem quantificar o valor da preservação dos habitats. Pode parecer estranha esta conversão de serviços de ecossistema em euros, mas a relação é bem direta. É o chamado “capital natural”. Sabe de que se trata?

O capital natural é um conceito que analisa o valor dos recursos naturais em relação a um produto ou serviço, sob a ótica dos custos de produção. O objetivo é que o stock de ativos naturais (como a água, solo, ar, oceanos, florestas, etc.), de onde fluem uma série de benefícios para a sociedade, deixem de ser considerados como ativos gratuitos, passando a fazer-se a sua valorização, ou seja, tratando-os como capital.

Se uma empresa depende da natureza para o seu sucesso – e, em última análise, todas dependem –, então esses “bens” naturais devem ser pensados como parte do seu capital. Se houver uma escassez destes recursos naturais, a sua produtividade será afetada, bem como a sua saúde financeira.

Esta ideia de depender da natureza para obter sucesso nos negócios é mais óbvia nuns casos (por exemplo, em indústrias que usam recursos naturais como matéria-prima) do que noutros (como o setor terciário). A relação nem sempre é clara, mas sempre existe: bancos e escritórios não têm uma dependência direta de recursos naturais, mas usam papel feito a partir de celulose, água para beber ou para higiene, energia gerada em centrais hidroelétricas, etc.

O conceito de capital natural tem ganho peso nos últimos anos, ajudando à integração dos recursos naturais no processo de avaliação de investimentos e operações das empresas. Permite-lhes compreender e priorizar os recursos essenciais ao negócio, entender e proteger os recursos mais impactados pelas suas operações, e desenvolver oportunidades para otimizar a utilização dos “bens” naturais, de forma a economizar gastos, atrair investimentos e antecipar-se a eventuais dificuldades de escassez futuras.

No fundo, o capital natural visa conciliar dois conceitos que estão muito mais interligados do que parece à primeira vista: natureza e economia.