Colocar uma árvore no meio da sala e enfeitá-la com luzes, fitas e bolas. Estranho, não? Mas milhões de pessoas um pouco por todo o mundo fazem-no todos os anos, em dezembro. Porquê?
Muito antes do advento do cristianismo, as plantas e árvores que permaneciam verdes o ano inteiro já assumiam um significado especial para as pessoas durante o inverno. Assim, os povos antigos penduravam galhos de plantas de folha perene – perenifólias – nas portas e janelas.
Em muitos países, acreditava-se que afastavam bruxas, fantasmas, espíritos malignos e doenças. Noutros, a crença era de que o inverno chegava todos os anos (a 21 ou 22 de dezembro, no hemisfério Norte) porque o deus sol estava fraco, e os galhos perenes lembravam que todas as plantas verdes cresceriam novamente, quando o sol melhorasse e o verão voltasse. Ou, simplesmente, simbolizavam a vitória da vida e da luz sobre a morte e a escuridão – eram, por isso, muitas vezes enfeitados, para ficarem mais coloridos.
É difícil identificar exatamente quando e onde estas tradições pagãs se transformaram na tradição como a conhecemos hoje, com vários países a reclamarem os créditos de local de nascimento da árvore de Natal. O que se sabe é que, embora, atualmente, as árvores de Natal existam um pouco por todo o mundo, as suas origens remontam a regiões com abundantes florestas perenes, nomeadamente as do norte da Europa.
Nesta geografia, tanto a Letónia como a Estónia afirmam ter sido o lar da primeira árvore de Natal. A Letónia remonta a sua história a 1510, quando uma organização de mercadores terá levado uma árvore para a cidade, que depois decorou e queimou. A Estónia rebate que existem evidências de a mesma organização ter preparado um festival semelhante na sua capital, Tallinn, em 1441.
Os historiadores têm dúvidas sobre ambas as alegações, argumentando que o mais provável é que estas festividades não estivessem ligadas ao Natal. Mas isso não impediu a Letónia de colocar na praça do município de Riga uma placa comemorativa do local da primeira árvore de Natal, nem Tallin de promover o turismo de época com referências ao “primeiro lugar na Europa a ter uma árvore de Natal pública”.
Em vez disso, os historiadores apontam que é mais provável que a árvore de Natal como a conhecemos tenha nascido na região da Alsácia, durante o século XVI, creditando a Alemanha pelas origens – hoje parte da França, na época a região era considerada território alemão. Há registos históricos que indicam ter sido erguida uma árvore de Natal na Catedral de Estrasburgo, em 1539, numa tradição que rapidamente ganhou popularidade. Os emigrantes alemães levaram essa tradição consigo quando se estabelecerem noutros países e, no século XVIII, as árvores de Natal estariam já por toda a Europa.
Em 1848, no Reino Unido, a rainha Vitória e o seu marido, o alemão príncipe Albert, entusiasmaram o mundo quando o Illustrated London News publicou uma ilustração da família real reunida à volta de uma árvore de Natal decorada. A rainha Vitória era uma autêntica “influencer” no seu tempo, pelo que, a partir daí, a tradição se terá espalhado pelo mundo.
Uma tradição, várias espécies
Em Portugal, o pinheiro-bravo é a árvore de Natal de eleição. Mas isto varia pelo mundo fora, considerando as espécies mais comuns de cada região.
Por exemplo, os abetos dominam o Natal no hemisfério Norte, sendo o abeto-do-cáucaso (Abies nordmanniana) o mais comum na Europa. Nos Estados Unidos da América, as árvores de Natal são, maioritariamente, o abeto-de-Fraser (Abies fraseri) e o abeto-nobre (Abies procera).
Mas não precisamos ir tão longe para encontrar variedade. Nos Açores, como a criptoméria (Cryptomeria japonica D. Don) é uma espécie muito plantada, costuma também ser usada como símbolo natalício.
Em tempos remotos, no território que agora é Portugal, terá sido o carvalho (Quercus sp.) despido de folhas, na sua roupagem de inverno, que se enfeitava nas festividades pagãs do solstício, comemoradas pela altura em que agora se celebra o Natal.
De acordo com a Associação norte-americana de Árvores de Natal, existem pelo menos 16 espécies popularmente ligadas ao Natal em todo o mundo, entre pinheiros, abetos, cedros e ciprestes. Em comum têm o formato cónico, com folhas finas e compridas, e um intenso tom verde-escuro.