As árvores são fundamentais para combater o fenómeno das ilhas de calor urbano, caracterizado pela elevação da temperatura em determinados pontos das cidades.
As ilhas de calor urbano surgem, principalmente, nas cidades com um elevado grau de urbanização, devido à remoção da cobertura vegetal e à construção de grandes aglomerados que refletem a luz e a radiação do sol e impedem a circulação do ar. Acresce a elevada capacidade de absorção de calor de superfícies como asfalto, tijolo ou betão, bem como as telhas de barro e de amianto. E também a poluição, que inibe a dispersão de calor.
Negativas para o ambiente, uma vez que favorecem a intensificação do aquecimento global, as ilhas de calor urbano são igualmente prejudiciais para a saúde humana, devido à degradação da qualidade do ar e a todas as consequências que lhe estão associadas. Apesar destes efeitos, há formas de minimizar estes “picos” de temperatura nas cidades, sendo o papel das árvores “a questão mais interessante sob o ponto de vista científico e de aplicação prática”, como nota António Saraiva Lopes, coordenador do projeto Zephyrus – Alterações Climáticas e Sistemas Ambientais, da unidade de I&D do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT).
No estudo “Evaluating the Cooling Potential of Urban Green Spaces to Tackle Urban Climate Change in Lisbon”, adianta o mesmo especialista e coautor, “descobriu-se que o poder de arrefecimento não vai muito além do jardim, pelo que nas ruas sem árvores o calor aumenta substancialmente”, o que levou à conclusão de que “é absolutamente fundamental que todos os espaços urbanos exteriores contenham árvores, para combater as alterações climáticas urbanas”.
Estratégias a seguir
E qual é a situação das cidades portuguesas? Apesar de os estudos sobre este assunto ainda não estarem generalizados no nosso país, o grupo de investigação Zephyrus colabora há mais de vinte anos com vários municípios, entre eles Lisboa, Cascais, Loulé e Leiria, na elaboração de Mapas Climáticos Urbanos e na criação de estratégias e medidas de adaptação às alterações climáticas, como as propostas no recém-aprovado Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa.
No caso de Lisboa, por exemplo, o projeto “Cartografia de Vulnerabilidade Térmica – Mapeamento dos efeitos das ondas de calor em Lisboa, face às projeções climáticas” e os Mapas Climáticos Urbanos já permitiram, revela o investigador, identificar “os bairros da cidade onde, atualmente, o risco associado ao calor, tendo em conta a saúde humana, é maior, mas igualmente onde se projetam temperaturas extremas no futuro, como no caso do Parque das Nações”.
Planear a plantação de árvores nas áreas urbanas em expansão é essencial, para permitir que as árvores façam o que fazem de melhor: melhorar a qualidade do ar, mitigar as alterações climáticas, aumentar a eficiência energética e tornar nossas cidades lugares mais seguros, saudáveis e atrativos para se viver.