As admiráveis cidades-esponja

5 de Novembro 2024

Inspiradas na natureza, as cidades do futuro poderão ser capazes de absorver e armazenar a água das chuvas, de forma eficiente e evitando cheias e inundações. O modelo “cidade-esponja” mostra como chegar lá.

O conceito de cidade-esponja não é novo, mas tem merecido um interesse crescente à medida que os fenómenos climáticos extremos se estão a tornar mais frequentes. Preparar as cidades para enfrentar estes eventos de forma sustentável, reduzindo os prejuízos materiais e humanos, é o objetivo que está por trás da ideia. A sua aplicação, que envolve múltiplas disciplinas, da arquitetura à engenharia, fará surgir áreas urbanas preparadas para absorver, reter e reutilizar as águas das chuvas, prevenindo cheias e inundações e promovendo uma gestão eficiente dos recursos hídricos.

Nas cidades-esponja, a palavra permeabilidade é central e são usadas soluções inspiradas na natureza e no ciclo da água para responder às chuvas intensas – com muitos parques e espaços arborizados interconectados entre si, edifícios com revestimentos e coberturas verdes, pavimentos permeáveis e também com a possibilidade de absorver, reter e armazenar a água em reservatórios. Esta água poderá será utilizada mais tarde, em épocas secas, para sistemas de rega, limpeza ou até mesmo na indústria.

Menos cimento, mais árvores e plantas

Foi no ano 2000 que o conceito de cidade-esponja surgiu pela primeira vez, desenvolvido pelo arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu. Os projetos que implementou no terreno e a consistência dos seus trabalhos académicos levaram a administração chinesa a investir na sua aplicação em inúmeras cidades.

Hoje, a China é o país mais avançado na implementação das cidades-esponja. Em 2020, 20% do território urbano do país já tinha a capacidades de absorver e utilizar 70% das águas pluviais. O objetivo estratégico do país é garantir que, até 2030, este cenário seja uma realidade em 80% das áreas urbanizadas.

Na base de todo o trabalho de Kongjian Yu está uma filosofia que advoga a harmonia com a natureza, em vez da tentativa de a dominar. Ou seja, em vez de se procurar conter o fluxo das águas com estruturas de betão, defende-se o respeito pelas estruturas naturais e a importância de dar espaço à água.

Numa entrevista que deu ao The New York Times, em março deste ano, Kongjian Yu afirmou que se a superfície permeável de uma cidade, incluindo os espaços verdes, ocuparem entre 20% e 40% da sua área, em teoria, pode-se resolver o problema das inundações urbanas.

Nas cidades do futuro que seguirem os princípios da cidade-esponja, haverá menos betão e mais zonas permeáveis com solo saudável e vegetação local: parques e jardins com árvores, plantas e zonas verdes que permitem a infiltração da água no solo; telhados cobertos com vegetação que absorvem água e ajudam a reduzir o escoamento. Ou seja, ao contrário do imaginário de alguns filmes futuristas, a sofisticação tecnológica não irá dispensar a natureza, nem sequer nas grandes cidades.

Nas cidades-esponja procura-se a harmonia com a natureza em vez da tentativa de a dominar. Ou seja, em vez de se procurar conter o fluxo das águas com estruturas de betão, defende-se o respeito pelas estruturas naturais e a importância de dar espaço à água.