Símbolo do outono e parte fundamental da história cultural, económica e gastronómica de Portugal, a castanha é a semente do castanheiro – uma árvore majestosa e imponente, que pode viver mais de mil anos.
“Castanheiros da idade do mundo”. Assim se lhes referiu Miguel Torga nos “Novos Contos da Montanha”. A sua longevidade impressionante tornou-os um símbolo de perenidade e perseverança. Diz a sabedoria popular que “um castanheiro leva 300 anos a crescer, 300 anos a ser e 300 anos a morrer”. Enquanto isso, dá alimento a inúmeras gerações.
Os castanheiros são árvores caducifólias, ou seja, perdem todas as suas folhas no outono, quando transformam a paisagem com os seus tons castanhos, amarelos e dourados. É também nesta altura que os seus frutos amadurecem e caem, permitindo a apanha das castanhas. Uma tarefa… espinhosa.
As castanhas são, na verdade, as sementes do castanheiro – crescem dentro do fruto, o ouriço, que se abre naturalmente no outono, libertando-as. Duas a três em cada ouriço, estão prontas a ser recolhidas por pessoas ou animais que delas se alimentam, desde tempos ancestrais. Um só castanheiro pode gerar mais de 200 quilos de castanhas por época.
História e distribuição em Portugal
O cultivo sistemático do castanheiro terá começado no Império Romano, mas a sua existência na Península Ibérica é anterior a esse período. Na Serra da Estrela, foi encontrado pólen fóssil de castanheiro com cerca de 8000 anos, ou seja, ainda do Paleolítico. Esta árvore, espécie autóctone em Portugal, existe espontaneamente ou é cultivada um pouco por todo o território. No entanto, é mais predominante em Trás-os-Montes, na Beira Alta, na Beira Baixa e no Alto Alentejo.
Segundo o mais recente Inventário Florestal Nacional, publicado em 2019 pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), os castanheiros ocupam 48,3 mil hectares do território nacional, tendo a sua distribuição aumentado face à avaliação anterior, em 1995, quando se registavam 32,7 mil hectares.
A castanha na cultura e na gastronomia
A castanha foi a base da alimentação em Portugal até ao séc. XVII, tal como noutras zonas da Europa mediterrânica, antes da chegada da batata e do milho. Era a principal fonte de hidratos de carbono, um alimento energético e nutricionalmente rico. Podia conservar-se (pilada) para consumir nos meses mais frios, tornando-se preciosa quando as colheitas agrícolas não eram tão abundantes.
Além de frescas, cozidas e assadas, as castanhas eram moídas e transformadas em farinha, a partir da qual se produzia pão – a chamada falacha. Era tal a sua importância, que o castanheiro era também conhecido por “árvore-do-pão”. Além disso, há registos de sopas, como o paparote (caldo de castanhas piladas), purés para acompanhamento de carnes e caça, doces e bolos.
Hoje, a castanha continua a ter inúmeros usos gastronómicos, e pode ser congelada e usada durante todo o ano. Mas é sem dúvida no outono que é mais consumida, havendo ainda muitas zonas do país onde os tradicionais magustos não podem faltar, tanto no dia de São Martinho como durante todo o mês de novembro.
Outros usos e recursos
Além das castanhas, importantes na alimentação humana e do gado, os castanheiros foram, ao longo dos séculos, fonte de outro recurso valioso: a madeira. No entanto, os castanheiros cultivados para produção de castanhas são diferentes daqueles que se destinam ao aproveitamento da madeira. Os primeiros são os castanheiros mansos, e as suas plantações são chamadas de soutos. Já o castinçal é uma plantação de castanheiros bravos, ou castinceiros, e estes destinam-se à produção de madeira.
Tanto uns como outros são importantes árvores da floresta portuguesa e contribuem para habitats ricos em biodiversidade. As suas flores agradam às abelhas, as folhas às borboletas e as castanhas alimentam diversas espécies de aves e mamíferos, como roedores, javalis e veados.
BI do Castanheiro europeu
Família: Fagáceas (a mesma dos carvalhos)
Género: Castanea (da qual fazem parte mais 12 espécies)
Nome científico: Castanea sativa Miller
Nome comum: castanheiro europeu ou castanheiro comum
Altura: pode atingir 30 a 35 metros
Diâmetro: até 12 metros
Longevidade: pode viver mais de mil anos