Em teoria, o tomate é um fruto. Na prática, é um legume. Em teoria, estaria na fruteira. Na prática, daria uma péssima salada de fruta. Este é um guia rápido para entender porque há frutos que se sentem mais confortáveis na panela.
Ponto prévio: nada do que vai ler aqui pressupõe que passe a chamar salada de fruta à sua salada de pimento assado, tomate e pepino. Mas pode ajudá-lo a entender por que razão um alimento que, do ponto de vista técnico, é inequivocamente um fruto, acaba por ser considerado um legume no nosso dia a dia.
Comecemos pela ciência. De acordo com a botânica, “fruto” é um órgão formado pela maturação de um ou mais ovários de uma planta angiosperma (isto é, com flor e fruto). Deste amadurecimento resulta, então, uma estrutura habilmente desenhada pela natureza para proteger as preciosas sementes que dão continuidade ao ciclo da planta. Estas sementes podem estar protegidas no núcleo, como numa maçã; dispersas, como numa melancia; ou até surgirem na forma de um caroço, como é o caso dos pêssegos e das ameixas.
Do outro lado da barricada, temos os legumes. Esta terminologia refere-se a qualquer parte comestível de uma planta que não seja fruto. Ou seja, podem ser folhas, como as da alface; caules, como o aipo; tubérculos, como as batatas; bolbos, como as cebolas; raízes, como as beterrabas; e até flores, como os brócolos.
Posto isto, não restam dúvidas de que o tomate é um fruto. Tal como o pimento, a beringela, o feijão verde, a curgete, a azeitona, a maçaroca de milho e tudo o mais que se lembre que contenha sementes. Porque terão então estes alimentos passado a ser considerados legumes? A explicação mais provável tem a ver com o seu baixo teor de açúcares naturais – como não eram doces, passaram a ir para a panela em vez de para a fruteira.
Ou seja, tendemos a considerar legumes os frutos que não são doces. Outra forma de encarar esta categorização é através do momento de consumo: ora são tipicamente parte de um prato principal, ora se encaixam no grupo das sobremesas.
Qual é, então, a regra para considerar determinado alimento uma fruta ou um legume? Senso comum. Se tem sementes, mas o seu palato não lhe reconhece açúcar suficiente, e, essencialmente, se na sua cozinha é usado como legume, está tudo certo: tem perante si um legume… mesmo que seja um fruto. Afinal, parafraseando Shakespeare, “uma rosa, com qualquer outro nome, teria o mesmo perfume”.
O importante é comer dos dois
Mais relevante do que a forma como os classificamos individualmente, é não nos esquecermos de consumir, diariamente, alimentos destes dois grupos. Os benefícios da fruta e dos legumes, principalmente em cru, são por demais conhecidos. A Organização Mundial de Saúde, por exemplo, é perentória na sua recomendação de 400 gramas de fruta e legumes num formato de “5 ao dia”: duas doses de fruta e três de legumes, ou vice-versa. Com sementes ou sem sementes, e chame-lhe o que chamar, não se esqueça desta meta diária.