As voltas que a água dá

18 de Março 2022

Chama-se ciclo hidrológico e representa as voltas que a água dá na natureza. É um movimento infinito e circular que distribui a água pelo planeta, permitindo a existência de vida. Neste processo, o papel das florestas é fundamental.

Ao permanente processo de circulação da água no planeta, passando de um estado para outro (líquido, sólido ou gasoso) entre os seus três grandes reservatórios naturais (oceanos, continentes e atmosfera), vezes sem conta, dá-se o nome de ciclo da água, ou ciclo hidrológico.

Tudo começa sob a ação do calor do sol, que aquece as águas superficiais e provoca evaporação. A água passa do estado líquido para gasoso e ascende para a atmosfera. Quando lá chega, o vapor arrefece, acumula e condensa, criando as gotículas que formam nuvens e nevoeiros. É a condensação, que precede a precipitação – quando as gotículas suspensas no ar ficam pesadas e caem no solo sob a forma de chuva. Se estiver mais frio, a água passa do estado líquido para o sólido e, nessa altura, cai neve ou granizo.

Quando atinge a superfície, tem vários caminhos possíveis: acumular e abastecer os rios, mares e oceanos, ou infiltrar-se no solo. Neste último caso, a água tanto pode ser absorvida pelas raízes das plantas, que, depois, a devolvem à atmosfera através da transpiração, como pode alimentar as importantes reservas que ficam sob a superfície. Este ano, o Dia Mundial da Água, que se assinala a 22 de março, tem por tema “Águas subterrâneas: Tornando o invisível visível”. O fluxo destes caudais escondidos sustenta vários sistemas aquáticos e é especialmente importante em períodos de stress hídrico, pois garante a utilização humana e alimenta vários ecossistemas.

E se não houvesse florestas?

A ação das plantas, e das florestas em especial, desempenha neste processo um papel importante para a qualidade e a disponibilidade deste bem finito e escasso. Segundo as Nações Unidas, 2,2 mil milhões de pessoas vivem sem acesso a água potável segura. Embora 71% da superfície do planeta esteja coberta por água, só 3% desta é doce (o restante é água salgada em mares e oceanos), ou seja, potencialmente utilizável pelo Homem. E escrevemos potencialmente porque, na realidade, 22% encontra-se em aquíferos de difícil acesso e 77% é gelo. Resta, portanto, menos de 1% diretamente disponível para consumo humano.

Segundo a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, cerca de 75% da água potável acessível tem origem em bacias hidrográficas florestadas. Quando existem árvores, parte da água da chuva e do nevoeiro fica retida nas copas e é depois evaporada de volta à atmosfera. Parte da água que chega ao solo vai infiltrar-se, ser absorvida pelas raízes, transportada pelo sistema vascular das plantas até às folhas e devolvida à atmosfera por transpiração. Apenas uma pequena parte da água é absorvida para ser usada na fotossíntese.

Como a quantidade de água que as plantas terrestres movimentam do solo para a atmosfera é cerca de mil vezes superior à que absorvem, o crescimento das florestas é fundamental na recirculação da água doce no planeta. As plantas são responsáveis por 80% a 90% da evapotranspiração terrestre (perda de água do solo por evaporação e perda de água das plantas por transpiração) e estima-se que esta recicle entre 54 mil e 70 mil quilómetros cúbicos de água por ano, influenciando os padrões de precipitação a nível global, a humidade do ar e o arrefecimento da atmosfera.

Por outro lado, a existência de vegetação, seja de raízes ou pela acumulação de material vegetal no solo (ramos, folhas e outro material em decomposição), facilita a acumulação e a infiltração da água da chuva, evitando que escorra superficialmente (originando menos erosão e menos sedimentos e poluentes arrastados) e encaminhando-a para os lençóis freáticos.

Outra das vantagens das florestas para a qualidade da água terrestre é a sua contribuição para a filtração e purificação da água doce. A presença de raízes e matéria orgânica no solo melhora a infiltração da água e contribui para a filtragem de partículas realizada pelo solo e pelas várias rochas por onde a água passa. Outra forma natural de purificação ocorre quando a água atravessa os vasos das plantas e é transpirada. Estes vasos permitem a passagem da água, mas retêm poluentes como bactérias ou metais pesados.

A circulação da água é, assim, um serviço do ecossistema muito importante que a floresta proporciona.