Barros, o Solo do Ano 2025

9 de Janeiro 2025

Férteis, mas escassos, os barros ocupam cerca de 1% do território português. Foram nomeados Solo do Ano 2025, num reconhecimento que é também um apelo à sua preservação.

Os barros são solos evoluídos, profundos e ricos em argila, com uma capacidade notável de retenção de água e nutrientes. Estes fatores conferem-lhes um elevado potencial de fertilidade, especialmente para a produção agrícola. A Sociedade Portuguesa das Ciências do Solo (SPCS) nomeou-os como Solo do Ano 2025, na segunda edição de uma iniciativa que pretende divulgar a diversidade e importância dos solos portugueses. Em 2024, na edição de arranque, os solos da Região Demarcada do Douro foram os escolhidos.

Os barros são um dos solos mais férteis e escassos em Portugal: ocupam apenas cerca de 1% do território nacional, distribuindo-se por pequenas áreas da Grande Lisboa e do Baixo Alentejo, com manchas menores a sul do Tejo.

Num cenário em que a autossuficiência alimentar em Portugal é baixa, a preservação deste recurso, que tem uma elevada aptidão para o cultivo de cereais, torna-se especialmente importante. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o país produz apenas cerca de 20% dos cereais de que necessita (excluindo o arroz), e o seu grau de autoaprovisionamento destes alimentos é dos mais baixos do mundo.  No caso do trigo, por exemplo, não tem ultrapassado os 5% do consumo.

Os barros, e a sua preservação, podem desempenhar um papel decisivo no reforço da segurança alimentar nacional. Nomeá-los “Solo do Ano” é uma chamada de atenção para a sua importância.

“O planeamento do uso sustentável dos barros deve ser tratado como uma prioridade”, alerta a SPCS, “garantindo a preservação do seu potencial produtivo e a sua contribuição para a segurança alimentar, à escala regional ou nacional”.

Solos: um recurso vital para a vida na Terra

A sobrevivência humana está intimamente ligada à proteção dos solos: basta pensar que eles são a base para a produção de mais de 95% dos alimentos que consumimos, segundo dados da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

Na agricultura, práticas de gestão sustentáveis e regenerativas melhoram a fertilidade e a estrutura do solo, aumentando a produtividade e a resiliência das culturas. Já no contexto da gestão florestal, a saúde do solo é igualmente crucial e a sua proteção é um dos pilares de uma gestão sustentável. Solos florestais saudáveis suportam a vegetação arbórea, fornecendo nutrientes e água, além de desempenharem um papel importante no sequestro de carbono. A floresta protege o solo contra a erosão, regula o ciclo hidrológico e contribui, igualmente, para a conservação da biodiversidade.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a restauração de terras agrícolas através da plantação de árvores pode aumentar a segurança alimentar de 1,3 mil milhões de pessoas. Mas proteger os solos é muito mais do que proteger a segurança alimentar da Humanidade. O PNUMA lembra que restaurar terras degradadas não só aumenta o armazenamento de carbono, mas também desacelera as alterações climáticas. A restauração de florestas, turfeiras e mangais, juntamente com outras soluções naturais, poderá responder a mais de um terço da redução de emissões de gases com efeito de estufa necessária até 2030.

“O planeamento do uso sustentável dos barros deve ser tratado como uma prioridade, garantindo a preservação do seu potencial produtivo e a sua contribuição para a segurança alimentar, à escala regional ou nacional”, alerta a Sociedade Portuguesa das Ciências do Solo.