Imperativos como o combate às alterações climáticas e a descarbonização, levam a um novo protagonismo da floresta como motor de evolução de uma economia fóssil e linear para uma bioeconomia circular, que se desenvolve em harmonia com a natureza.
A bioeconomia refere-se à produção de recursos biológicos renováveis e à conversão destes recursos e fluxos de resíduos em produtos de valor acrescentado, com base em princípios e processos biológicos inovadores.
Absorveu três conceitos essenciais ao desenvolvimento sustentável: economia verde (que resulta num maior bem-estar humano e equidade social, reduzindo riscos ambientais e escassez ecológica); economia circular (adoção de padrões de produção em círculo dentro de um sistema económico, aumentando a eficiência na utilização dos recursos); e biorrefinação (processo industrial que otimiza a utilização integral da biomassa, originando produtos como biocombustíveis, eletricidade e calor, e biomateriais).
A alteração de paradigma de desenvolvimento económico representa novas oportunidades para os produtos de base florestal e para a redução da dependência dos materiais de origem fóssil, num modelo de desenvolvimento que harmoniza a criação de valor com a preservação da natureza.
A floresta é, assim, o tronco comum de um desenvolvimento sustentável em todos os seus três pilares: ambiental, social e económico. As florestas portuguesas cresceram com base na ação humana, um facto que reforça o mérito desta relação e que sublinha o quanto a defesa e a valorização do capital natural e dos serviços dos ecossistemas podem ganhar se assentarem num tecido social e económico forte e coeso, com proprietários, produtores e empresas da fileira a gerir com responsabilidade um património nacional que tem potencial para gerar múltiplos benefícios para as comunidades locais, promovendo a sua qualidade de vida.
As indústrias de base florestal estão bem posicionadas para implementar esta transição para a bioeconomia, nomeadamente a indústria de pasta e papel, que usa como matéria-prima um recurso natural e renovável, e adota as melhores práticas de economia circular.
Por cá, projetos como o Inpactus – do consórcio liderado pela The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, copromovido pelo Instituto RAIZ e as universidades de Coimbra e Aveiro, e com a participação de várias outras universidades e centros de investigação e desenvolvimento nacionais e estrangeiros –, contribuem para um plano estratégico onde as fábricas de pasta e papel evoluirão gradualmente para biorrefinarias de base florestal. Compósitos – fibra/termoplásticos –, bioetanol a partir de resíduos florestais e óleos essenciais são três áreas de investigação e desenvolvimento em curso e que, em breve, irão proporcionar novos negócios e emprego qualificado, no âmbito da bioeconomia baseada na floresta nacional.
O relatório “Mapping Portugal’s bio-based potential”, do BIC – Bio-based Industries Consortium, de março de 2021, considera que Portugal se encontra numa posição privilegiada para liderar a transição para a bioeconomia na Europa, e identifica as indústrias da “alimentação e bebidas”, da “pasta e papel” e “do processamento de madeira” como três dos motores nacionais para esta transformação.
É um desafio com a dimensão do planeta. Mas a floresta está aí para nos acompanhar. Como sempre.