“As pessoas querem mudar, mas não sabem como”

16 de Março 2022

Leonor Guedes defende o conhecimento: “só sabendo aquilo que fazemos para gerar um impacto negativo é que podemos mudar de um modo consciente”. Por isso, diz, “é preciso educar as pessoas” para a sustentabilidade.

A viver há quatro anos fora de Portugal (primeiro em Hong Kong, agora em Viena de Áustria), e há sete a fazer viagens de avião regularmente, Leonor Guedes, 28 anos, quis perceber melhor a sua pegada carbónica. “Trabalho numa startup que se dedica às alterações climáticas e aprendi muito sobre o impacto das nossas escolhas e sobre o que podemos fazer para o reduzir”, conta, para explicar que “uma das coisas que mais tem impacto na nossa pegada é a maneira como nos movimentamos”.

Fez contas – “há muitas aplicações para isso”, refere – e concluiu que a maior parte das suas emissões de carbono era proveniente dos voos. “Sempre andei muito de avião, não só por viver fora de Portugal, mas também por gostar muito de viajar”, diz. Ao constatar o peso destas viagens, tomou uma decisão: “Reduzir ao máximo o número de voos. Tento só ir de avião para Portugal (daqui era difícil viajar de outra forma), e todas as viagens que faço em turismo passaram a ser de comboio”.

Como está no centro da Europa, o caminho de ferro acaba por ser uma opção relativamente fácil. Já viajou de comboio para a República Checa, a Polónia, a Eslovénia, a Itália e a Alemanha, e ficou fã. Sobretudo das viagens noturnas, com cama e pequeno-almoço. “Não é preciso acordar cedo para estar no aeroporto a horas, chegamos ao destino mais relaxados, e não há limite de bagagem!”, conta, divertida. Quanto ao resto das deslocações, pela Áustria só viaja de comboio, e em Viena limita-se a andar de transportes públicos e de bicicleta.

“É preciso educar”

Nos seus cálculos, constatou ainda que o outro “grande impacto negativo” na sua pegada de carbono era a alimentação, pelo que resolveu deixar de comer carne. Mas as suas preocupações em torno da sustentabilidade não se ficaram por aqui. “Só compro aquilo de que preciso mesmo”, refere. Uma filosofia que tenta aplicar a quase todos os bens não essenciais, do vestuário à eletrónica.

Mas decisões como esta, insiste, devem ser devidamente pensadas e direcionadas. “Só sabendo aquilo que no nosso dia-a-dia tem impacto negativo é que podemos reduzir de um modo consciente”, diz. Até porque, exemplifica, “os meus dois grandes impactos negativos não se aplicam a todos”.

Para uma mudança consciente, é preciso “educar as pessoas”, defende. Porque “as pessoas querem mudar, mas não sabem como”. Leonor sabe do que fala. Trabalha numa empresa que fornece programas educacionais que ajudam a tentar mudar estes comportamentos nas empresas, e tem consciência de que, apesar da boa recetividade, ainda “falta muita educação” a este nível.

“Estas decisões têm de se tornar um hábito, e isso só vai acontecer quando as pessoas perceberem o peso que elas têm”, sublinha. No entanto, reconhece, “tudo isto demora tempo, porque são mudanças estruturais e os hábitos estão muito enraizados na sociedade”, pelo que vai ser preciso “forçar o poder político a apressar regras e leis”.

Leonor defende que é preciso educar as pessoas para as questões ambientais, de forma que as suas decisões sejam conscientes.