Apesar de já não habitarem em Portugal desde o século XV, os castores são um roedor de que todos já ouvimos falar. Estaremos perto de os ver novamente a construir barragens e cabanas flutuantes nos nossos rios?
Mamíferos semiaquáticos, apresentam dois grandes dentes incisivos, com uma superfície dura cor de laranja, que usam para “cortar” madeira e construir as suas famosas barragens. São animais herbívoros, com uma preferência dietética por galhos de árvores lenhosas.
De constituição pesada e pernas curtas, não são exatamente caminhantes exímios, deslocando-se, em terra, numa espécie de gingar bamboleante. Já na água, a sua agilidade aumenta exponencialmente, pelo, como mecanismo de defesa contra eventuais predadores, é aí que escolhem viver, em cabanas flutuantes que os próprios constroem.
Existem, atualmente, duas espécies de castores: Castor fiber (castor europeu) e Castor canadensis (castor americano). Ao longo dos tempos, a caça e a perda de habitat colocaram-nos perto da extinção.
O “nosso” castor europeu, outrora extremamente popular na Europa e na Ásia, já não existia na maioria dos países no século XIX. No século XX, estimava-se que existissem apenas cerca de 1300 destes castores em estado selvagem. Esforços concertados de gestão e planos de reintrodução resultaram no aumento da população de castores europeus, estabelecendo-se, entretanto, populações em vários países.
Em Portugal, a espécie foi extinta no século XV. Existem registos fósseis que atestam a sua presença entre nós, e também alguma influência na toponímia, com localidades como Beire ou Castedo a fazerem referência a “biber” ou “caster”, nomes arcaicos para castor.
Os planos de reintrodução da espécie ao longo da sua distribuição histórica, apoiados, nomeadamente, na Diretiva Habitats da União Europeia, focam-se nos benefícios dos castores para os sistemas hídricos, e podem significar que voltaremos a ver estes simpáticos roedores no nosso país.
O caso de Espanha é um bom exemplo para nós: o regresso dos castores aconteceu nos anos 2000, na bacia hídrica do rio Ebro. Hoje, a população existente é já de cerca de 600 a 700 exemplares, e continua a crescer. Esta zona do território espanhol tem níveis de cobertura florestal e pluviosidade anual muito semelhantes aos que ocorrem em Portugal.
Os castores podem ser bons aliados na mitigação dos efeitos das alterações climáticas, através da sua atividade de construção de barragens, que ajuda a limpar as águas, a restaurar as zonas húmidas e a parar inundações e secas.
No caso concreto da restauração dos sistemas hídricos portugueses, a “renaturalização” dos rios, no sentido de recuperar os ecossistemas para que se autossustentem, é um caminho a seguir, e há estudos que mostram que os castores podem ser um fator chave neste processo.