Castores muito perto de Portugal

6 de Abril 2023

Vestígios da presença deste mamífero roedor, descobertos na zona de Salamanca, próximo da fronteira portuguesa, vêm alimentar a esperança de que o castor regresse a território nacional. 

Foi nas margens de um afluente do rio Douro, a cerca de oito quilómetros da fronteira com o Douro Internacional, que investigadores espanhóis encontraram um tronco de salgueiro roído por castores que acreditam ser da espécie castor-europeu (Castor fiber). A descoberta veio acalentar a esperança de, em breve, estes animais poderem regressar a Portugal, de onde desapareceram durante o século XV.

A confirmação desta possibilidade, admitida pelos investigadores, será possível através das monitorizações efetuadas pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e representará um importante contributo para o enriquecimento da biodiversidade nacional.

 

A extinção e o regresso à Península Ibérica

A destruição das zonas húmidas e a caça excessiva – pela carne, pela pele (considerada um luxo) e por um composto usado como antiespasmódico e afrodisíaco – originaram a quase extinção da espécie no território europeu, até finais do século XIX.

A situação começou a reverter já no século XX, com a criação de projetos de reintrodução e translocação. No entanto, à Península Ibérica, o Castor só regressou em 2003, com a libertação não oficial de 18 animais, no rio Aragão, em Espanha.

Em 2018, a classificação como Espécie Historicamente Nativa, pela Comissão Europeia, e Espécie Protegida, pelo governo espanhol, permitiu ao castor-europeu encontrar condições para se expandir e colonizar algumas áreas nas bacias dos rios Ebro, Douro e Tejo.

 

“Engenheiros de ecossistemas”

O regresso do castor ao nosso país é, assim, aguardado com expectativa, até porque trará inúmeros benefícios. Considerado um “engenheiro de ecossistemas” pela capacidade de construir barragens nos cursos de água, o castor contribui para o enriquecimento da biodiversidade dos rios. As barragens, açudes e pequenas lagoas que constrói para se proteger dos predadores, proporcionam micro-habitats a outras espécies animais e vegetais, além de promoverem a regulação do fluxo e da qualidade da água.

Segundo um estudo recente realizado em Portugal, o regresso do castor poderá trazer também benefícios económicos ao país. Os seus autores demonstraram que a atividade dos castores no restauro de um rio, ao longo de um ano, equivale a valores entre os 240 mil e os três milhões de euros em trabalho humano.

Assim, seja pelo enriquecimento da biodiversidade e pelos benefícios que traz aos ecossistemas, seja pelas vantagens estruturais e económicas, o regresso destes mamíferos roedores ao nosso país será, com certeza, uma boa notícia.