Chá para relaxar? Sim. Chá para aquecer? Também. Mas chá para limpar metais pesados da água? Essa é nova – e é científica.
Um estudo recente da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, revelou que o chá tem um talento escondido: pode ajudar a remover metais pesados da água, como chumbo, cádmio ou crómio. A descoberta pode parecer insólita, mas abre caminho a soluções sustentáveis e acessíveis para tornar a água mais segura, com base num ingrediente tão simples como folhas de chá.
Um filtro natural
Os investigadores analisaram várias infusões e descobriram que o chá, especialmente o chá preto moído, consegue reduzir em cerca de 15% a concentração de chumbo numa amostra de água, num processo que demora apenas cinco minutos. O segredo está na adsorção (com “d”, não confundir com “absorção”): os compostos químicos presentes nas folhas de chá têm afinidade com os iões metálicos e ligam-se a eles, impedindo que fiquem dissolvidos na água.
Quanto mais quente a água e mais tempo de infusão, maior a eficácia. E nem todos os chás são iguais: chá preto, verde e branco mostraram melhores resultados do que camomila, rooibos ou oolong.
Um detalhe curioso – e muito relevante – foi a descoberta de que, no caso do chá embalado, o tipo de saco influencia bastante os resultados. Os sacos feitos de celulose, material de base vegetal e biodegradável, mostraram-se eficazes na retenção de metais pesados. Já os sacos de algodão ou nylon não tiveram praticamente qualquer efeito.
Este dado vem reforçar uma ideia que no My Planet já sabemos bem: a celulose é muito mais do que uma fibra natural – é uma aliada poderosa em soluções sustentáveis e inovadoras.
Soluções simples para problemas sérios
Importa dizer que ninguém está a sugerir que se purifique água em casa com uma saqueta de chá. Mas este estudo mostra o potencial de soluções simples, de baixo custo e impacto reduzido, com base em materiais naturais, para tratar água em regiões com escassez de recursos ou sistemas de tratamento deficientes.
Numa altura em que cerca de 2 mil milhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso seguro a água potável, ideias como esta, saídas do laboratório, são mais do que curiosidades científicas – podem ser sementes para soluções reais.
Este é mais um exemplo de como a natureza tem uma sabedoria que a ciência está (ainda) a descobrir. E de como materiais de origem vegetal e renovável, como a celulose – que já foi apelidada de supermaterial do futuro –, podem ser aliados valiosos em desafios muito concretos do nosso tempo. Seja na purificação da água, na substituição de plásticos, ou na construção de uma bioeconomia mais circular e sustentável, o potencial está lá, muitas vezes onde menos esperamos: nas árvores da floresta ou… dentro de uma chávena.