A prateleira do supermercado é uma ínfima e aborrecida amostra da diversidade de cogumelos que existem na natureza. Um passeio na floresta, nesta altura do ano, pode ser bem mais revelador das cores e formas que compõem este universo misterioso, habitado por seres estranhos e fascinantes.
Novembro é o mês dos cogumelos. Entre as mais de três mil espécies registadas em Portugal, a maior parte delas torna-se visível sobretudo no outono. Por isso, depois das primeiras chuvas, multiplicam-se os eventos que procuram promover o conhecimento sobre as espécies comestíveis que existem no nosso país. E, não menos importante, como se diferenciam daquelas que recomendam distância.
É no coração da floresta que podemos descobrir inúmeras espécies de cogumelos, incluindo uns quantos tesouros, com formas e cores surpreendentes. Alguns parecem saídos de um universo fantástico, habitado por gnomos e duendes, desafiando tudo o que pensávamos saber sobre os mais conhecidos representantes do reino dos fungos. Conheça alguns dos mais peculiares cogumelos que podem ser encontrados nas florestas portuguesas.

O cogumelo laranja que brilha no escuro
O cogumelo-das-oliveiras (Omphalotus olearius) não passa despercebido, com as suas cores vibrantes, que vão do amarelo ao laranja avermelhado. A sua característica mais espantosa, contudo, só pode ser apreciada no escuro: durante a noite, torna-se bioluminescente. O seu brilho servirá, ao que se pensa, para atrair os insetos e torná-los disseminadores involuntários dos esporos, garantindo, assim, a continuação da espécie. Apesar da aparência apelativa, não só para insetos, o cogumelo-das-oliveiras não deve ser consumido. Em Portugal, aparece sobretudo na região do Alentejo, debaixo de oliveiras.

Famílias numerosas e aglomeradas
É o seu tom que dá o nome comum a este cogumelo. A armilária-cor-de-mel (Armillaria mellea) é uma espécie invulgar pela forma como cresce – na base dos troncos de algumas árvores –, em estruturas agregadas de chapéus sobre chapéus. Cada um mede entre 10 e 15 centímetros de diâmetro e pode ser convexo, plano ou ondulado. O aspeto suculento é enganador: o seu consumo não é aconselhável.

O cogumelo que queria ser flor
É normalmente debaixo de carvalhos ou pinheiros que se encontram os pequenos cantarelos (Cantharellus cibarius). O seu tom vai do amarelo-canário ao alaranjado, e crescem numa elegante forma de campânula, com pregas debaixo do chapéu, como se quisessem transformar-se em flor. Também são conhecidos por “rapazinhos” e surgem sobretudo nas serras algarvias. Não só é comestível, como uma iguaria muito apreciada.

Um clássico das histórias infantis
Nos cenários das florestas encantadas, nunca faltam os maravilhosos cogumelos de chapéu vermelho vivo, salpicado de bolinhas brancas. Mas eles existem mesmo, em pinhais e carvalhais do território nacional. O nome comum – amanita-mata-moscas ou rebenta-bois – deixa perceber que o carácter idílico existe apenas nas histórias infantis. Na realidade, o Amanita muscaria é uma espécie bastante tóxica, pelo que devemos apreciá-la apenas com o olhar.

De língua de fora
Não foi por acaso que lhe chamaram língua-de-vaca. De facto, este estranho cogumelo parece exatamente isso, e, ainda por cima, é comestível. A sua forma é realmente única porque, ao contrário da maior parte dos cogumelos, não tem pé. O nome científico – Fistulina hepatica – revela que também pode assemelhar-se a um fígado. Cresce em troncos de castanheiros e carvalhos e o seu chapéu, de textura gelatinosa, pode atingir os 25 centímetros.