Os objetivos de produção e a conservação da biodiversidade não são valores antagónicos. Pelo contrário, as florestas plantadas podem promover a diversidade biológica, desde que seja seguida uma gestão responsável.
“As árvores, as florestas e a silvicultura sustentável” podem “ajudar o mundo a combater as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. Mas isto exige um maior reconhecimento, por parte da sociedade, do considerável valor das florestas e do seu papel crucial na construção de economias inclusivas, resilientes e sustentáveis.” No seu relatório “The State of the World’s Forests 2022”, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) sublinha assim a relevância das plantações florestais, geridas de forma sustentável, não só no combate às alterações climáticas, mas também na urgência de reverter a perda de biodiversidade global.
As florestas de produção não são os “desertos verdes” de que muitas vezes são “acusadas”. Nelas vivem várias espécies, outras utilizam-nas para procriar, e, ainda para outras, constituem abrigo ou passagem entre diferentes habitats, sendo esta conectividade muito importante – servem como corredores ecológicos, favorecendo a dispersão natural das espécies e o intercâmbio genético entre populações. Mas também desempenham um papel relevante na manutenção de Zonas de Interesse para a Conservação, como preconiza a gestão responsável certificada.
“Sabemos que há espécies que usam o eucaliptal, mesmo que não seja o seu habitat natural. Ele pode ser permeável, e isso é benéfico. É possível criar condições para que não sejam zonas estanques”, afirma Miguel Rosalino, investigador e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para quem é necessário “criar conhecimento sobre as espécies que podem viver no eucaliptal, ou usá-lo, e saber mais sobre que variações existem na biodiversidade em eucaliptais com diferentes características, mesmo sendo todos produtivos.”
Nuno Rico, responsável pela conservação da biodiversidade na The Navigator Company, corrobora esta ideia: “Mesmo para as espécies que não habitam dentro das florestas, estas áreas acabam por funcionar como territórios de caça ou zonas de passagem”. Mas a floresta de produção pode representar ainda um habitat complementar para espécies que habitam em espaços florestais. É o caso da águia-de-Bonelli e do açor (aves de rapina ameaçadas), que escolhem árvores mais antigas, de médio e grande porte, para nidificar, e estão presentes, nomeadamente, em eucaliptos de grande porte junto ou dentro de algumas das propriedades geridas pela Navigator, onde são protegidas.
Pesquisas realizadas em Portugal e Espanha mostram que as florestas de eucalipto ibéricas têm, em média, uma riqueza específica 30% inferior às florestas naturais, o que é bem diferente da ideia de “deserto verde”. E mesmo esse valor varia consoante a idade das plantações. Em eucaliptais maduros, por exemplo, foi registada uma maior atividade de morcegos e, no que às aves e líquenes diz respeito, o padrão de ocorrência em plantações jovens aproxima-se do que ocorre nas zonas de matos, e evolui para uma presença em tudo semelhante à registada nas florestas naturais no caso dos eucaliptais mais antigos.
As florestas de produção protegem e fazem crescer as florestas de conservação
Nas florestas de produção são as práticas de gestão silvícola sustentáveis que fazem a diferença, no que toca à conservação da biodiversidade. Em Portugal Continental, os 107 mil hectares de área florestal sob responsabilidade da The Navigator Company são geridos de forma ativa, sempre com o estrito compromisso de valorizar e proteger a floresta. 100% desta área tem os selos de certificação internacionais FSC® (Forest Stewardship Council®; licença nº FSC®-C010852) e PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification; licença nº PEFC/13-23-001).
“Desde 2008, seguimos uma estratégia programada de conservação e promoção da biodiversidade, de forma a compatibilizar os objetivos de produção com a conservação, respondendo também aos indicadores da certificação florestal”, afirma Nuno Rico. “Temos a preocupação de garantir não só o ‘no net loss’ – ou seja, que não haverá qualquer perda de biodiversidade como consequência das nossas atividades – mas também, sempre que possível, criar um ganho, o chamado ‘net positive gain’”, explica.
Dentro dos espaços florestais geridos pela Companhia, há lugar para áreas exclusivamente dedicadas à conservação da biodiversidade. Ou seja, onde não há objetivos produtivos e a intervenção humana tem apenas como desígnio conservar ou melhorar o estado dos habitats. Nas propriedades sob gestão da Navigator, a extensão dessas zonas excede a obrigação imposta pelos sistemas de certificação e atingiu, em 2023, os 12,19% da área total. São as denominadas Zonas com Interesse para a Conservação (ZiC) e constituem importantes habitats para flora e fauna diversa, onde se incluem espécies com diferentes estatutos de conservação e proteção, e endémicas.
Dentro das ZiC, encontram-se 4.420 hectares classificados como habitats protegidos pela Rede Natura 2000 e ainda Áreas de Alto Valor de Conservação (AAVC) – conceito exclusivo da certificação FSC e que implica medidas adicionais de proteção, nomeadamente uma monitorização mais regular, em função da presença de valores ambientais, sociais e culturais de caráter excecional, que são desta forma salvaguardados.
Faz também parte da gestão responsável desenvolvida pela Navigator o combate aos fatores que conduzem à desflorestação e à degradação da floresta, tal como assumido no “Forest Sector SDG Roadmap”, um roteiro de referência do WBCSD (World Business Council for Sustainable Development) no que respeita a orientar o setor florestal para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Há espécies que vivem nas florestas de produção. Outras utilizam-nas para procriar, como abrigo ou como passagem entre habitats. A gestão responsável não só conserva a biodiversidade existente, mas também promove o aumento do número de espécies e das suas populações.