Construir uma floresta para o futuro

2 de Outubro 2025

Há respostas, no terreno, que mostram como tornar a floresta mais resiliente. Na opinião de José Luís Carvalho, responsável de Inovação e Fomento Florestal na The Navigator Company, as estratégias têm de ser simples e orientadas para a gestão, promovendo uma abordagem colaborativa entre iniciativas privadas e políticas públicas.

Olhar para uma fotografia é olhar para o passado. E as fotografias das paisagens rurais portuguesas de há 100 anos mostram-nos um território desarborizado, com o solo arroteado por agricultura e pastorícia de uma população que vivia nas aldeias e nas serras. Escrevia Andrada e Silva, em 1815, que “apesar de muitas Ordenações e Regimentos que mandão fazer novas sementeiras e plantações, nossos bosques e arvoredos tem hido desapparecendo com huma rapidez espantosa”.  Hoje temos mais de um terço de Portugal com floresta diversa, que inclui elementos de diferentes origens biográficas (europeias, asiáticas, mediterrânicas, etc.), a floresta que os nossos pais e avós construíram. Mas vemos os incêndios florestais, o abandono das zonas rurais, a fragmentação das propriedades em parcelas muito pequenas, e o aumento das áreas de mato e florestas sem manutenção, e uma árvore que era pouco conhecida pelos nossos bisavós, o eucalipto. E ficamos confusos de como responder a este desafio de resistir aos incêndios, de manter a biodiversidade, de ter pessoas e rentabilidade na floresta.

Aponta-se uma perceção negativa sobre as florestas de eucalipto, mas a ciência mostra que o risco de incêndio está profundamente ligado à falta de gestão dos matos, e a eventos climáticos extremos associados às alterações climáticas, e não à espécie de árvore. Assim, cuidar da vegetação do sub-bosque é essencial para reduzir a severidade dos incêndios, pois como dizem nas aldeias, “o mato é a escada do fogo”, esse mato que dantes ia para os currais ou para as terras cultivadas com esforço.

E para as soluções climáticas, a floresta surge como produtora de bens renováveis (madeira, papel, tissue, embalagens, energia, e novos bioprodutos) e reguladora de oxigénio e fixadora de carbono. O eucalipto faz parte dessa floresta, e os proprietários plantaram-no porque perceberam todas as vantagens que traz.

Experimentam-se respostas políticas para trazer gestão profissional e agrupar as pequenas áreas, e traçam-se medidas uniformes a nível nacional, acompanhadas de proibições e obrigações restritivas para a propriedade privada. As Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), criadas em 2005, mobilizaram as pessoas – 1,98 milhões de hectares –, e, mais recentemente, após o grande incêndio de 2017, o Programa de Transformação da Paisagem, que inclui as Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP), pretende intervir em 141 mil hectares. Mas a fotografia atual destes programas não alterou o risco, pois no terreno poucas ações foram executadas.

Um exemplo de simplicidade em agir no terreno é o programa “Limpa e Aduba”, criado pela Biond, associação das bioindústrias de base florestal, que apoia os proprietários (75.000 hectares de eucaliptais já intervencionados). Outros programas, levados a cabo por organizações de produtores florestais, agregam esforços de gestão conjunta das propriedades em minifúndio, mostrando que é possível e está feito. Falta fazer mais e melhor, alinhando os poderes locais e regionais com a genuína vontade das pessoas de deixar o seu bocado de terra em melhores condições.

Neste esforço de pensar o “Ordenamento do território, alterações climáticas e incêndios”, as ferramentas têm de ser simples e orientadas para a gestão, promovendo uma abordagem colaborativa entre iniciativas privadas e políticas públicas, no respeito e partilha de vontades.

Vamos tentar deixar uma fotografia a cores.

Por José Luís Carvalho, Responsável de Inovação e Fomento Florestal na The Navigator Company